quarta-feira, 21 de julho de 2010

A Ética do Mando e a Legitimidade

“Para alcançar o conhecimento acrescente coisas todos os dias. Para alcançar a sabedoria, remova coisas todos os dias”.Lao Tse

O que é viver? Será que o trabalho é a razão de viver, e qual a missão do homem? Será estudar, ter uma profissão, arranjar um emprego ou empreender um negócio, e executar tarefas pelo resto da vida? Casar, ter filhos e os sustentar e educar? Tudo isso faz parte da realização pessoal, mas a verdadeira autorealização ocorre no autoconhecimento. Temos metas múltiplas, mas a meta principal é ser feliz. Para isso precisamos descobrir que as virtudes da Beleza e do Bem nascem com conosco e praticando-as permitir que aflore a excelência.Como podemos começar a tarefa? O aprendizado consiste em nos aproximarmos conscientemente da nossa verdadeira identidade, e contemplar os vários níveis de realidade que vivemos com os olhos da razão e da alma. Desse modo o intelecto se amplia e torna-se um servidor do Ser, e a partir de então, começamos a sentir pulsar e irradiar um novo padrão de inteligência e consciência. A mente aprende a superar limites e liberta-se da tirania dos preconceitos. Inseguranças e fixações se dissolvem e assumimos nossa condição de mutantes. Como tudo que fazemos é conseqüência do quanto sabemos sobre nós, e do que sentimos e percebemos dos outros e da vida, a realidade interna transforma a realidade externa. Isso porque o que oferecemos ao mundo, quer sejam idéias, sentimentos ou ações sofrem influencias e influenciam na medida em que compatibilizamos nosso interior com o exterior. Por isso, os valores humanos precisam ser resgatados não como um código de conduta, mas como eixo do que somos, do que fazemos e do que acreditamos. Por traz do que pensamos e valorizamos existe um referencial paradigmático que é determinante. Nosso arcabouço mental é o filtro pelo qual passa a qualidade da nossa percepção. Portanto, viver valores humanos é o desafio maior na construção do novo, isso porque resgatar esses valores é resgatar nossa humanidade. É preciso ousar e se dispor a transformar e reorganizar o que acreditamos ser fundamental. E a partir daí perceber que da mesma maneira que construímos um paradigma somos capazes de ultrapassá-lo e criar uma nova visão de mundo. Descobrir por exemplo, que viver virtudes não é um ideal dissociado das contingências do mundo concreto, e das nossas necessidades de sobrevivência. Numa sociedade equivocada, o agir correto é o meio que dispomos para torná-la melhor e mais justa, a partir das nossas próprias ações e atitudes. Porem, é importante ter sempre em mente que o correto e o bom nem sempre andam juntos, e desenvolver um olhar que reconheça quando a obediência significa desrespeito, e desobedecer uma maneira de respeitar. Enquanto estivermos lutando prioritariamente pelo efêmero como: fama, poder, posição social e dinheiro a qualquer preço, estaremos alimentando um modelo de sociedade que nos está destruindo, e ameaçando a vida no planeta. Como mudar isso? Basicamente reconhecendo que a vida é sagrada. Viver a impermanência com leveza, sem apegos, e reconhecer a interdependência de todas as formas de vida. A união consciente do intelecto com a alma é fundamental para o conhecimento de si mesmo. Nosso corpo físico é conformista e tende a adaptar-se até ao que lhe é incomodo, já a nossa alma é inconformista e tem sede de transformações. Conectados com a alma baseamos nossa vida no movimento. Ela dita os princípios espirituais eternos, e guiados por eles nos tornamos mais lúcidos, e mais equilibrados emocionalmente; portanto mais organizados, criativos e produtivos. Conseqüentemente colocamos nossos talentos naturalmente à serviço da vida O trabalho ganha mais alegria e maior significado, e os deveres levesa. Os valores espirituais permanentes são o alicerce da consciência humana. Por isso, é importante vive-los e implementa-los na família, na empresa e na sociedade, e assim fomentar ações orientadoras de um novo paradigma. A Mãe Terra nos convoca para transformações profundas de consciência, não podemos continuar agindo como vírus destruidores do planeta, pelo contrário, devemos ser seu sistema imunológico. E para isso é preciso viver corretamente, fugir do comodismo e aceitar que somos seres em constante aprendizado. O que é viver corretamente? A ação correta se enraíza na capacidade de ser verdadeiro consigo mesmo. É a ação resultante da coerência e inteireza do caráter, e sua repercussão embora imprevisível é sempre transformadora. A evolução biológica, tecnológica e científica deve caminhar junto com a evolução da consciência. A proposta transformadora que se apresenta é viver valores humanos como ponto de partida. Olhar a vida sem medo, e reconhecer sua complexidade como um convite para abrir portais de possibilidades e soluções. O atual sistema de valores entende a vida como complicada, isso nos amedronta e estimula conformismo, acomodação e desalento. A tecnologia, a ciência e o conhecimento não são suficientes para nos direcionar para um mundo melhor e menos ameaçador. A pratica dos valores humanos gera transformações estruturais na consciência e desperta a disposição interna de servir a propósitos grandiosos. Viver valores humanos cotidianamente garante o respeito às obrigações e aos direitos humanos. Somente a transformação do individuo gera a transformação da sociedade. O despertar consciente dos valores é fundamental para a diluição da violência e das discrepâncias educacionais e econômicas que resultam num crescente exercito de excluídos, e fomentam feridas no tecido social. Nossa verdadeira vocação é ouvir a voz silenciosa da alma e comungar com o universo, a natureza e o semelhante. É preciso ousar transgredir os parâmetros de um modelo de vida que nos tornou solitários, infelizes, impiedosos e amedrontados. Com coragem, “cor cordis”, coração, “agire”, agir com o coração, ou seja, viver a vida reconhecendo a inteligência do coração, essa é a convocação. Pelo poder do espírito integrador é possível construir um novo modo de coexistência. Podemos ser emissários dessa fé e dessa freqüência de energia transformadora, reaprendendo a espiritualizar a matéria e a curar o antigo cisma entre corpo e espírito, mente e coração.

Liderança em Valores Humanos

Os princípios são o lustro e o lastro do caráter. Constituem os fundamentos da consciência, por isso definem valores e estruturam propósitos e lideranças. Esse tipo de liderança não precisa procurar como servir a sociedade e atuar profissionalmente com dignidade, a opção se apresentará por ressonância, naturalmente. É importante frisar que numa liderança baseada em valores humanos, a capacidade operacional, a flexibilidade, as habilidades para lidar com o inesperado, e a integridade do caráter legitimam o poder. A partir de suas lideranças e seus princípios, a empresa se reinventa e se abre corajosamente para a potencialidade, a responsabilidade civil e a abundância. A pratica diária dos valores humanos é o ponto de mutação na qualidade da convivência e dos propósitos de uma instituição. Quem lidera e pratica os valores humanos sabe que só é rígido e prepotente quem não sabe amar, pois quem sabe amar é firme, justo, compreensivo, solidário e naturalmente autoconfiante. Por isso o líder em valores acredita na circulação do poder. Numa administração circular o líder reconhece que o comando troca de mãos dependendo das exigências operacionais de um projeto, e não se sente ameaçado ao transferir responsabilidade e autonomia. As parcerias se formam naturalmente entre os companheiros de trabalho e a criatividade aflora sem esforço. Nesse tipo de liderança o importante é o empenho e não o esforço porque o líder se disponibiliza para entrar no fluxo natural da energia do grupo, reconhece os sinais que indicam a trajetória do projeto e se coloca a serviço. Para uma empresa alicerçada em valores humanos os clientes são parceiros de sonhos convidados a viver experiências conjuntas de prosperidade. Cada negocio tratado deve ser lucrativo para ambas as partes senão não é suficientemente bom. Lucro não significa logro, porém, ganho partilhado. Desse modo a disputa desaparece porque não existe vencedor nem vencido, e todos tornam-se companheiros de criação e forjadores de riqueza e progresso. Nesse sistema de trabalho o direito de mandar nasce do altruísmo, a virtude de se adequar circunstancialmente ao semelhante e amorosamente procurar o ponto de encontro e não o confronto. Buscar o que nos aproxima e não o que nos pode afastar. E a partir daí despertar nos companheiros o que eles têm de melhor, estimulando seus talentos e qualidades individuais. Embora para muitos a obediência controladora possa legitimar a conduta dos liderados e subalternos, a liderança em valores sabe que estes são inerentes tanto ao líder quanto aos comandados e fomentam respeito, solidariedade e cooperação, além de congregar as diferenças, e tornar os objetivos e metas a serem atingidas uma missão de todos. Os valores humanos despertados na consciência como expressão plena da nossa humanidade legitimam e engrandecem a missão da empresa e dignificam as tarefas cotidianas dos funcionários. Ao exercer o mando o líder precisa unir o que ele é aquilo que ele faz; e viver com destemor e reverência sua natureza interior. Liderar é basicamente servir colocando em movimento harmônico pensamento, sentimento, palavras, competências e ações. Quando se põe o amor para trabalhar tudo torna-se mais fácil, verdadeiro e prazeroso. Outro ponto importante na liderança é o conhecimento da ética da alegria, portadora de leveza, confiança, soltura e otimismo. A ética da alegria fomenta entusiasmo, ”entheos”, quer dizer com Deus, e é a raiz que nutre e avaliza a transgressão a toda forma de mediocridade, intolerância, crueldade e conformismo. A alegria cria um patamar de onde partimos para vôos criativos direcionados pelo Bem, é impossível ferir os outros quando temos alegria no coração. Muitas vezes é preciso ultrapassar as formalidades e seguir o coração, o Ser, tendo o discernimento como força de propulsão para que possamos deixar o amor fluir e receber da alma a inspiração necessária.. As soluções adequadas e a criatividade inovadora nascem de uma inspiração luminosa e “numinosa”, que alimenta uma vontade originária do Ser interior. A interioridade é a morada do espírito que está sempre conectado com a totalidade, e dele brota o respeito pelas diferenças como partes da mesma expressão da vida. Porém, paradoxalmente a ação criativa repousa na dualidade, no fato de expressar a mutabilidade e o indeterminismo porque é portadora do novo. Para desempenhar plenamente sua função, o líder precisa saber lidar com a complexidade dos fatos, circunstâncias e as emoções que permeiam as ações e reações humanas. A liberdade interna deve ser cultivada porque descontamina a visão e redefine significados e prioridades. A descoberta do universo interior, a espiritualidade, permite que nos tornemos algo mais do que já somos. As relações humanas adquirem maior brilho e a honestidade desvela imposturas e aproxima as pessoas pelo coração. É importante lembrar que o semelhante nos afeta do mesmo modo que o afetamos, embora nem sempre pelo mesmo motivo nem com a mesma intensidade. E por meio dessas relações crescer humanamente e desenvolver potencialidades adormecidas. A liderança baseada em valores humanos cria o consenso motivador e inovador e faz de cada uma das pessoas que compõem o grupo de trabalho um portador de transformações. Uma gestão em valores atua com alto grau de eficiência criativa e o mínimo de exclusão, controle, vaidade e constrangimentos. A cooperação assume o lugar da competição compulsiva e a inveja não tem lugar quando vemos no brilho do outro um convite para reconhecermos o nosso próprio brilho e na interdependência dinâmica da complementaridade. Os valores humanos conscientizados e praticados no dia a dia desenvolvem em cada um de nós uma percepção multifacetada da vida, e a constatação da beleza que se revela na diversidade. A partir daí acontece uma transformação íntima profunda e contínua, que reinventa as relações humanas, a liderança, o trabalho, a família e a sociedade.

A Serviço da Vida

“ Que tua alma dê ouvidos a todo grito de dor, tal como o lótus abre seu coração para sorver o sol matutino.” Pensamento budista

Atualmente um número muito grande de pessoas vendo as dificuldades pelas quais passa nossa sociedade é movido internamente a se perguntar, o que posso fazer, como posso ajudar? Mas, será que a pergunta não deveria ser como posso servir? É importante também saber a serviço de quem estamos, para não sermos vitimas do nosso ego-personalidade e agir por vaidade. Qual a diferença entre ajudar e servir? A ajuda pura e simples implica desigualdade, porque uma das partes se apresenta sempre em desvantagem. Quem ajuda sente sua auto-estima crescer, mas o ajudado pode sentir-se diminuído e inferiorizado. Por esta razão é preciso estar atento para não transmitir inadvertidamente uma impressão de superioridade quando ajudamos alguém. Por outro lado, servir implica relacionamento entre partes essencialmente iguais embora circunstancialmente diferentes. Servir ao semelhante é o encontro de seres humanos pelo coração. Quando agimos com espírito de serviço existe intercambio de afeto e algo indefinível, e além do que estamos oferecendo de concreto é trocado. Sempre que ajudamos alguém sentimos auto-satisfação, e nosso ego muitas vezes se sobrepõe à generosidade se apropriando do resultado da nossa ação. A ajuda sem espírito de serviço espera recompensa e reconhecimento, por isso muitas vezes quem ajudamos se sente em débito, e constrangido, se afasta de nós. A ajuda pura e simples inclui retorno e cobrança. Porém, quando servimos, a inteireza do nosso ser se revela na ação amorosa e altruísta, e ao mesmo tempo em que acolhemos o outro, somos acolhidos por ele, por isso não existe cobrança nem divida. Movidos pela compaixão compartilhamos emoções e eliminamos egoísmo e preconceitos. Estar a serviço inspira uma visão compassiva, compreensiva, fraterna e solidária das pessoas. O exercício da solidariedade nutre e fortalece a bondade humana e preenche de alegria o coração. No serviço amoroso quem serve é também servido. Servir ensina como nos desapegarmos das nossas ações e do resultado delas. Colaborar amorosamente com o bem estar do semelhante desperta a consciência de unidade na diversidade, e o Sagrado Mistério se faz presente e atuante, porque servir é trabalhar com e para a alma. O serviço renova a alegria de viver e reforça a fé em Deus e nos Seus propósitos insondáveis. Servir é basicamente uma maneira de ver, compreender, sentir e reverenciar a vida. Tudo o que é feito por e com amor é um serviço sagrado, por mais corriqueira que seja a ação. Não existe limite para o serviço, nem lugar e hora marcados para servir. A família, por exemplo, é um campo fértil para o serviço amoroso. Conviver com os parentes, funcionários e amigos nos ensina como aparar arestas do próprio temperamento, e perceber que as pequenas vilanias do cotidiano nos convocam para a pratica da paciência, da compreensão, do perdão e da tolerância. Todo gesto, toda palavra ou atitude amorosa é um serviço ao Bem. No trabalho, a convivência com um companheiro de trato difícil oferece oportunidades preciosas para prestar serviço. Esses colegas e familiares difíceis são mestres nos ensinando a compreender antes de julgar e enxergar o que existe por traz das palavras, emoções e atitudes. Olhar para quem nos ofende sem mágoa, e sem revidar, mas, procurando sentir e ver o que está além das palavras duras proferidas, e perceber nessa pessoa alguém que sofre é uma linda maneira de prestar serviço. Se essa pessoa não fosse infeliz não seria agressiva, prepotente, e rude, pois, quem é feliz não fere ninguém. Desse modo permitimos que a generosidade desabroche como o valor que nutre nossa humanidade. O serviço amoroso pode romper barreiras transferindo amor de nós para os outros e também nos disponibiliza para receber amor. O impulso de servir nasce naturalmente quando percebemos que estamos todos interligados na teia delicada da natureza, e servir o semelhante nos torna servidores de Deus Pai e Mãe.

Atitudes em relação ao semelhante

Para tomar consciência das nossas atitudes em relação ao outro é preciso além de nos auto-observarmos e questionarmos o que sentimos ter sempre presentes na mente as diferenças sutis entre ajudar e servir. A comunicação verdadeira com o semelhante se estabelece atravez dos fios sutis das emanações do coração, e a percepção básica do outro, sob o ponto de vista da ajuda é a avaliação. Eu avalio que o outro precisa de mim porque é mais frágil mais pobre e menos capaz do que eu. Já o ponto de vista do serviço compreende eu e o outro como pertencentes à mesma Vida e ambos como portadores de força, fragilidades, defeitos, qualidades, talentos, e capacidades. Ajudar mobiliza apenas parte do ser, servir mobiliza todo o Ser. Ajudar pressupõe saber o que é melhor para o outro, servir respeita as escolhas e limites do outro. Nossa atitude interior perante o semelhante quando ajudamos é de julgamento, e somos movidos a ajudar pela culpa ou piedade. Quando servimos existe abertura afetuosa para ouvir, compreender e ir além do que é dito para sentir aquilo que o outro não revela, e unidos pelo amor solidário criar em conjunto soluções. A piedade distancia os corações e a compaixão aproxima os corações. No decorrer da vida o serviço vai criando bases sólidas de sustentação de valores e motivações para viver e atuar no mundo. O serviço amoroso integra pelo coração os membros da família e de uma comunidade porque nos ensina como doar e amar verdadeiramente. Alem do mais, valida a dimensão do sonho, onde tudo é possível, fortalece a fé e a confiança, e nos capacita para construirmos juntos uma sociedade mais digna e próspera, menos injusta e mais feliz.

Música das Esferas

Nas esferas ao redor admiráveis harmonias de sons são geradas eternamente, e dessa mesma fonte todas as coisas foram criadas.

Desde os antigos egípcios, de quem os gregos aprenderam muitos dos conceitos matemáticos, astrológicos, astronômicos e musicais; até hoje persiste a crença no Principio Harmônico universal como a fonte da vida. Platão chamou esse Principio o Único que se expande, a Flor da Vida. Segundo essa sabedoria milenar cada sistema estelar tem sua própria oitava musical que vibra em sintonia com todas as demais oitavas dos diversos sistemas solares do nosso universo e dos multiversos. Assim, cada planeta é considerado um ser vivo único, e inteligente, que interage energeticamente entre si e tem um som, um tom e uma vibração diferentes, mas que é parte integrante de uma determinada oitava estelar. Todos os sons, tons e vibrações dos planetas juntos constituem a musica das esferas. Segundo a astrologia solar, os signos do zodíaco, esse circulo imaginário desenhado nos céus, estariam relacionados com os planetas do nosso sistema solar atravez de oitavas, formando a sinfonia das esferas e constelações, e tudo isso agiria diretamente sobre os corpos humanos e o psiquismo. Pitágoras desenvolveu a teoria dessa correspondência abrangendo toda a escala musical e os planetas na matemática e na relatividade das distâncias. Ptolomeu e Johannes Kepler trabalharam com os zodíacos tonais. Eles consideravam importante para o autoconhecimento e a saúde física, mental e espiritual conhecer o tom e o som pessoal, assim como a respectiva ressonância cósmica. Rudolf Steiner, como educador também criou um zodíaco tonal, com a particularidade de ser baseado nos intervalos de quinta na escala musical. É significativo nos ensinamentos antroposóficos conhecer esse sistema e a correspondência de cada sonoridade e tonalidade, com os órgãos que compõem os sistemas que constituem nosso organismo. Sathya Sai Baba no seu Programa de Educação em Valores Humanos tem no canto conjunto um importante instrumento pedagógico de. harmonização de grupos, e superação de diferenças interpessoais, inseguranças e limitações auto-impostas. Essa técnica pedagógica também faz aflorar alegria e solidariedade. Para os orientais, principalmente para os hindus e tibetanos, o som, o canto devocional e mantrico tem enorme importância na educação e formação do ser integral. Além de ter poder de cura dos níveis físico, mental, intelectual, psíquico e espiritual do ser humano. A educação musical refina o corpo emocional, educa os sentidos e aproxima da beleza, além de ensinar a linguagem silenciosa da alma. Os hindus enfatizam a importância do “sabda” o som sagrado que brota do silencio profundo do universo promovendo a manifestação de tudo que existe. Para muitos, essas correspondências devem parecer arbitrárias, porém essas associações podem se tornar instrumentos importantes para a compreensão de níveis de realidade que ultrapassam o mundo tangível e objetivo. Elas abrem portais atravez dos quais podemos contemplar e compreender a experiência humana, com sabedoria, amor, leveza e alegria. Algumas se baseiam na escala cromática, e as estâncias zodiacais começando pelo dó central. Assim o dó torna-se Áries, o dó sustenido Touro, sucessivamente. Todos, porém, afirmam que na hora em que nascemos as estrelas, constelações e planetas, que se encontram em determinada posição e conjunção no nosso sistema solar, formam o diapasão universal daquele “momentum cósmico”. E esse se torna o nosso diapasão, o som interior, e a tonalidade, ritmo e ressonância que oferecemos ao mundo. Os tons, ritmos, melodias e harmonias dos corpos celestes, a partir daí passam a ecoar em nossas células. A nossa energia individual se relaciona com as energias das pessoas, da natureza e do universo, e com elas vibra em ressonância harmônica ou desarmônica. Cada planeta e cada signo tem sua própria vibração e é portador de uma energia específica que vibra no tom musical a ele relacionado. Nosso mapa astral pode ser descrito como uma composição musical não apenas solar, mas sideral se levarmos em conta a astrologia védica. No mapa astrológico as notas dissonantes indicam as áreas que precisamos harmonizar para que tons e planetas desarmônicos entrem em sintonia, e nossa consonância com a musica das esferas seja a melhor possível, e possamos manifestar a plenitude dos nossos talentos. É importante salientar que embora algumas notas destoem quando tocadas juntas, nos cabe encontrar os tons e semitons que nos tragam harmonia buscando acordes que ajustem por meio de combinações tonais as defasagens e dissonâncias. O mesmo acontece no relacionamento entre pessoas. Isso é feito mais facilmente quando conhecemos o nosso mapa zodiacal e tonal segundo Steiner e Pitágoras. A busca da identidade individual é uma constante entre todas as raças e culturas, por exemplo: entre tribos africanas existe a exaltação do que chamam “A Canção dos Homens”. Quando uma mulher engravida, ela se isola e medita para poder ouvir a musica do seu feto, e entrar em sintonia com ele atravez dessa canção. Quando o bebê nasce a mãe junto com as mulheres da tribo cantam essa canção saudando sua chegada ao planeta, quando ele (ela) entra na puberdade ouve sua canção para marcar a nova etapa de vida e direcionar suas ações para o Bem. Por ocasião do seu casamento, a canção também é cantada celebrando a formação da nova família, e quando o indivíduo erra e infringe leis, os membros da tribo cantam a sua canção para lembrá-lo qual a conduta correta, e finalmente, quando chega a hora da sua morte, toda a tribo canta em conjunto a canção celebrando a sua volta para a fonte original. Esse conhecimento parece permear as culturas dos povos. Os índios fazem uma leitura orgânica dos céus, condicionam a vida à correlação entre o universo e a Terra, e identificam a forma de suas constelações com a fauna da região que habitam. O plantio e a colheita podem ser intensificados pela comunhão com o som, daí os cantos e danças louvando essa força eterna que emana e se origina dos céus. No antigo Egito, quando a estrela alfa da constelação do Cão se posicionava de determinada maneira significava que as cheias do Nilo estavam próximas, e as terras seriam fertilizadas garantindo abundância e preservação da vida. Na Índia acredita-se que cada planeta tem sua musica, um mantra, e uma silaba “bija” “semente”. Entoar essa silaba semente e o nome do planeta em sânscrito, nove vezes promove a sintonia entre a energia individual e a cósmica, realizando curas. O numero 9 é para os hindus o numero do Deus manifestado e em ação, daí ser indicado cantar nove vezes. Como lidar com o padrão de energia presente em nosso mapa astrológico? Como fazer uso do livre arbítrio para, conscientemente descobrir modos de utilizar construtivamente, a energia dos signos e nosso som e tom pessoais? A astrologia é uma ciência inspirada que permite leituras exotéricas e esotéricas, e unida ao conhecimento musical pode ser de grande valia no processo de autodescoberta. Não se trata de adivinhação ou vaticínio, como vulgarmente é considerado esse conhecimento milenar, mas de busca de autoconhecimento e de comunhão com o cosmo, para poder desenvolver potencialidades pessoais e aparar arestas negativas da personalidade. A oposição ao nosso signo no zodíaco é a distancia de 180 graus que separa um planeta do outro. Todos nós já nos deparamos com pessoas que parecem estar em total oposição a nós, e a tendência é nos afastarmos dela. Porém, o caminho do amor universal é o da harmonia, e por isso é preciso encontrar um meio de ajustar dissonâncias entre nossos tons vibracionais, e deixar fluir a melodia do encontro fraterno. O trabalho da harmonia interior e exterior nos oferece o caminho das transformações fundamentais. A musica ensina como transmutar energias destoantes em todos os níveis de relações. A fusão harmônica proporciona unidade na diversidade tonal e vibracional. Por isso é importante ativar corretamente os sons harmônicos que irão atuar no nosso campo energético. Os sons influenciam fortemenete nossos estados emocionais e mentais. Há uma relação sinérgica entre planeta e signo, e segundo Alice Bailey, o regente esotérico do Sol e do ascendente indicam o propósito da vida subjetiva de cada um. Por outro lado, os regentes mundanos do Sol e do ascendente descrevem o que fazemos no mundo exterior e o tipo de dificuldades a serem enfrentadas no ambiente em que vivemos. Existem alguns planetas exaltados em nosso mapa, eles são sempre poderosos, mas nem sempre é fácil lidar com eles. A integração dos opostos polares da roda zodiacal é importante pra transcender limitações do ego. Temos no zodíaco doze signos e seis polaridades. Harmonizar os opostos polares facilita o equilíbrio das tendências da personalidade. Nosso corpo vibracional, e emocional é musical. Até os sete anos forma-se a base do corpo musical, e o desenvolvimento psico-motor se estrutura na harmonia da percepção rítmica e tonal. A voz é o instrumento que traduz nosso tom,nossa marca, e revela estados emocionais. O chakra laríngeo afinado com o chakra cardíaco incrementa a criatividade, a auto-confiança, a coragem, a intuição e a abertura para transformações fundamentais. Os sons dos chakras quando entoados alinham e ampliam o âmbito de ressonância, de captação e transmissão de energias no nosso campo energético, assim como o propósito e intensidade das nossas intenções mentais. Quando entoamos os sons correspondentes aos nossos chakras alinhamos nossa vibração com o universo e transcendemos o reino do tempo, do espaço e da matéria. Hoje sabemos que a saúde é estabelecida pela integração entre os diferentes sistemas que compõem nosso organismo e está intimamente relacionada ao equelibrio dos chakras, nossa anatomia sutil. Os sons da nossa anatomia vibracional a partir do chakra raiz são: Lam-Vam-Ram-Yam-Ham-Om-Aum. Sabemos que qualquer forma de som é poderosa fonte de energia. Seja pela emissão da voz humana, seja atravez de instrumentos musicais naturais ou eletrônicos, o som é sempre criador e renovador. O som é também poderoso meio de aprendizado, o que se aprende cantando é mais facilmente assimilado. O som é também importante condutor de emoções positivas ou destrutivas. Isso porque os sons agem diretamente na complexidade do nosso universo interior, e influenciam o corpo emocional e o corpo físico diretamente. Por tanto, é importante escolher o que ouvir, quer sejam palavras, quer sejam musicas. As musicas e as palavras de má qualidade produzem energia de baixa freqüência. Por outro lado atravez da boa música e de palavras amorosas e sábias desenvolvemos sentimentos puros e criamos um campo energético propício para relacionamentos harmoniosos e parcerias profícuas. O som da musica de qualidade superior tem freqüência elevada por isso desenvolve a intuição, e ativa a inspiração e a criatividade a serviço do Bem. Sob a ação frequencial da musica de qualidade superior a concentração mental acontece sem esforço, assim como o relaxamento do corpo e das tensões emocionais. A musica de baixa qualidade é prejudicial porque produz excitação muscular e mental ativando instintos inferiores e emoções perturbadoras. A vibração do som modifica os padrões das ondas cerebrais, dos cristais do sangue, da organização celular, e atua também na percepção, nas funções orgânicas e nos estados psicoespirituais. Temos que estar atentos as nossas reações aos sons para aproveitarmos seus efeitos benéficos, assim como evitarmos seus efeitos nocivos. É enriquecedor e aconselhável ouvir os sons mantricos de todas as religiões, assim como orações e demais expressões do sagrado nas diferentes culturas. Esse conhecimento educa a mente e nos aproxima da sabedoria da alma. Os sons sagrados dos mantras e orações de todas as tradições espirituais são elos entre o corpo, a mente e o espírito, a matéria e a Luz, e produzem efeitos pacificadores, curadores e curativos. Som é poder, é a vida manifestada vibrando, ressoando, reverberando, e se expandindo em diferentes formatos e maneiras. Das trevas à Luz, do Som a Forma. “No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus...”(João 1,1)

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A Generosidade e a Prosperidade

“Existe no mundo o suficiente para suprir as necessidades de todos os homens, porém não para satisfazer sua cobiça”. Mahatma Gandhi

Infelizmente nós não somos educados para exercitar a generosidade e daí fomentar a prosperidade. Desde muito cedo somos preparados para reter, acumular, e defender a toda provão que é nosso. Somos ensinados ao mesmo tempo a desconfiar e nos defender dos semelhantes, e do mundo, assim como a disputar, e procurar ser sempre o vencedor. Com isso, a sociedade se apresenta como uma arena, a vida torna-se uma ameaça, e as pessoas, mesmo os familiares, adversários potenciais. Em razão dessa visão de mundo somos educados para ganhar a vida e não para viver, usufruir, compartilhar, e contribuir com a sociedade colocando-se a serviço da vida. A família e a escola definem valores de acordo com seus propósitos e princípios. Os propósitos e princípios por elas defendidos atualmente alimentam uma sociedade individualista, antiética e violenta. Trata-se de adestramento e não de educação. Com esse tipo de educação-adestramento somos conduzidos por valores inspirados pela lei do salve-se quem puder, e por isso colhemos ganância, corrupção, medo, violência, irreverência e imediatismo. Seguindo esse modelo educacional nos tornamos predadores planetários. A falta de ética campeia e vemos os resultados desastrosos disso em todos os ramos de atividade. Porém, a ética vista apenas como código de conduta não é o suficiente. É preciso que os valores éticos se enraízem em valores espirituais para que não se reduza a uma etiqueta. A ética sem a mística apresenta valores artificiais que são impostos e manipuláveis e isso compromete o caráter, o comportamento social e institucional. Diante desse quadro, a sensação de impotência arrefece a fé e o entusiasmo pela vida, e inibe o poder de iniciativa, e a capacidade de ousar, criar, e aceitar o inesperado e respeitar o diferente. É fácil constatar isso, diariamente os órgãos de comunicação mostram a falência das nossas instituições, e a barbárie e a inadequação das relações humanas. A falta de solidariedade e de esperança aparece na indiferença e apatia das pessoas diante dos desmandos dos governantes, e no descaso com relação ao sofrimento alheio. Nas menores coisas esse padrão destorcido se apresenta de forma assustadora. Por exemplo, quando pedimos algo para alguém, seja o que for, se observarmos a expressão do rosto da pessoa a nossa frente, notamos logo que uma nuvem de receio vem embaçar o seu olhar, e seu corpo se enrijece, se defendendo do “ataque”. È uma reação automática, acontece mesmo que esse alguém não tenha consciência disso. E se o que pedirmos for dinheiro, ou algo de que ela precise abrir mão, então tudo piora muito. A falta de fraternidade o orgulho e ou, o medo se apresentam sempre que pedimos um favor. Isso demonstra que temos dificuldades para amar, assim como para acolher, e para servir. Desse modo resistimos a compartilhar e principalmente renunciar a alguma coisa sem sentir um gostinho amargo de perda. Isso acontece porque somos ensinados desde cedo a guardar, reter, e poupar para que nunca falte; como se a vida fosse previsível, controlável e imutável. Conseqüentemente temos medo de viver, e não confiamos na dinâmica de renovações do fluxo natural da existência, nem na lei da reciprocidade. Quem nunca ouviu o famoso ditado “Quem guarda tem?” Nossa conexão com a carência nos distancia da abundância, e causa insegurança que por sua vez nutre o medo, e o imobilismo comodista com a ameaça da frustração, da perda e da dor. A solidariedade e a colaboração que são valores naturais no ser humano tornam-se qualidades raras. A teia da vida se fortalece pela colaboração e compartilhamento, quando extraímos dela mais do que oferecemos a empobrecemos. Nesse contexto egocêntrico e isolacionista, a alegria, a disponibilidade e a descontração são vistas quase como uma transgressão. É comum observar quando demonstramos alegria e soltura o quanto as pessoas ao nosso redor, em geral entediadas, reagem com estranheza. Algumas até comentam: “Você está sempre alegre não é?” O que diminui imediatamente a intensidade da nossa alegria. Automaticamente nos sentimos inadequados como se estivéssemos fazendo algo errado ou inoportuno. A alegria é um estado que a alma anuncia e tem grande poder transmutador, por isso incomoda. É um valor legítimo, e além do mais ativa a divina alquimia que permite fluir o poder da alma naturalmente, sem inibições. No entanto, as pressões externas nos afastam do que realmente é importante para nós, e do que realmente queremos e nos faz feliz. Antivalores como a inveja, a mentira, a cobiça, a disputa, o egoísmo e outros se enraízam no distanciamento imposto entre o espírito e o mundo. A generosidade se nutre da espiritualidade, e esta, quando despertada, nos conecta com a alegria, a autoconfiança e a fé no Inominável. Descobrimos o Princípio da abundancia e das infinitas possibilidades. Essa Força que emana amor e se alimenta de amor, é a inesgotável fonte transformações. Otimismo, fé, coragem, autoconfiança, entusiasmo, gratidão e generosidade, são valores que caracterizam alguém que ama de verdade, e se permite ser amado. Sim, porque quem não sabe amar não se permite ser amado por ninguém. Quem não sabe receber também não sabe doar. O amor é a pedra angular do nosso templo interior, e o sustentáculo da felicidade, e do verdadeiro progresso material e espiritual. A espiritualidade é a bússola no meio do oceano de incertezas, e no barco da vida devemos ter os olhos sempre voltados para o céu, e por ele nos guiar, sem esquecer de remar na direção da praia. Unir mundo material e mundo espiritual é a nossa tarefa mais importante enquanto seres humanos. A primeira lei do universo é a lei da potencialidade pura e da abundância. Portanto, a vida se alimenta da vida e a lei da atração atua constantemente. Depende de nós a qualidade do que atraímos, o universo não se nega a nos prover quando nos colocamos a serviço da vida.

Dinheiro e Espiritualidade
Muitos dizem que dinheiro não traz felicidade, é verdade, mas sem duvida supre necessidades básicas fundamentais, gera possibilidades além de garantir a sobrevivência. Temos que suprir as necessidades materiais e espirituais da nossa condição humana e nos capacitarmos para tal. Todos querem a felicidade, mas nos esquecemos que ela é uma virtude, e que transcende as condições financeiras e mudanças aparentemente aleatórias da vida. Quando aprendemos a viver em harmonia com o Eu profundo, descobrimos que os ciclos da vida nos expõem às situações pelas quais precisamos passar para desenvolver plenamente nosso potencial humano. E assim nos libertamos do medo, duvida, culpa e autopiedade, e do jogo oscilante entre prêmios e punições, e assumimos a responsabilidade sobre nossa própria conduta. Percebemos que a responsabilidade é uma dádiva e não um fardo, e descobrimos que tudo o que nos acontece traz consigo as soluções. A partir daí aprendemos com nossas falhas e renascemos de nós mesmos dentro da dinâmica das transformações, e compreendemos que a existência recomeça a cada momento e nós com ela. Muitos sofrem por ter dinheiro de menos ou demais, a tal ponto que perdem a noção de preço e valor, lucro e logro. Na verdade o dinheiro tem valor convencionado e é importante como resultado material da energia aplicada no trabalho dos homens e das mulheres. Para muitas pessoas existe o conflito entre o dinheiro e a espiritualidade. Esse conflito é fortalecido pelo mito mal interpretado de que riqueza é um empecilho para a elevação espiritual. A riqueza não é o entrave para a felicidade e ascensão espiritual, o que dificulta ser feliz e evoluir espiritualmente é o apego, a avareza, a arrogância e a ganância. Alguns pensam que a elevação espiritual está atrelada a carência e privações, mas de nada adianta negar a importância do dinheiro e pensar o tempo todo em ganhar dinheiro invejando quem é rico. É preciso dar a essa energia o poder que ela tem, sem minimizar nem exacerbar sua importância. A generosidade é o valor que nos liberta desse impasse porque fortalece nossa humanidade e descontamina nossa visão sobre perdas e ganhos, e amplia a compreensão das coisas do mundo e do espírito. É o valor que possibilita a criação de riquezas pessoais com propósitos grandiosos, sem prepotência, culpa nem cobranças. A generosidade resulta da fé na vida e no divino, por isso desencadeia a energia mobilizadora que resulta na realização vitoriosa de qualquer empreendimento. Ser próspero não é o bastante é preciso gerar prosperidade. Na Bíblia, a parábola do jovem rico que não consegue abdicar dos seus bens e dos seus hábitos, ensina que felicidade e progresso implicam na liberdade para abrir mão, renunciar ao comodismo e ousar acreditar na vida, no novo, desconhecido e surpreendente. O jovem rico diz a Jesus que quer ser feliz, e o Mestre pede que ele abandone tudo o que tem e conhece, e se disponha a segui-Lo. Amedrontado, o jovem recusa o chamado de Jesus. Essa parábola explicita que o vilão não é a riqueza, mas o medo de mudar e ousar que nutre o apego, a dependência e o comodismo. Do apego surgem a inércia e a desconfiança que juntos fundamentam a ação cumulativa que busca no acúmulo um escudo protetor. Esses são fatores que tornam o coração estéril e entorpecem a criatividade renovadora, e nos impedem de saber que suprir o necessário é o suficiente. O apego faz a carência pairar como ameaça constante, e a ganância nos torna insaciáveis, gerando falsas necessidades à medida que nos alija do contentamento. Por ironia, o apego define o destino do apegado e este, buscando segurança e tranqüilidade, só encontra inquietação e sobressaltos. Nascemos naturalmente generosos e altruístas, mas pouco a pouco nos tornamos avaros e egoístas a medida que aprendemos com o comportamento de familiares, e interagimos com o meio social e cultural a nos relacionarmos com a vida. A família e a escola nos incutem os valores que sustentam a organização social, política e econômica, assim como o padrão de relacionamentos. É chegada a hora da educação interromper o ciclo vicioso de enganos, e permitir que a excelência humana aflore. A educação é o fio condutor dessas transformações e uma educação para o novo milênio precisa ter como eixo os valores humanos para contemplar as dimensões materiais e espirituais do ser humano. Devemos compatibilizar valores materiais e espirituais para nos livrarmos da couraça do individualismo medroso e da falta de amor. Somente assim teremos autonomia e competência para fazer a diferença e estaremos livres de ilusões que impedem que vivamos plenamente a vida. A riqueza e a prosperidade material se fundamentam na espiritualidade e a generosidade é o esteio da abundância, da parceria e da reverência pela vida. Ser generoso não é ser perdulário é saber compartilhar com alegria e desprendimento, e ter confiança no semelhante, na vida e em Deus. Quanto mais generosos formos, mais livres, criativos, amorosos, felizes e prósperos seremos.

Os Valores Humanos e a Construção da Paz

“Não existe caminho para a paz, a paz é o caminho”. Mahatma Gandhi
“Amem a todos, sirvam a todos”. Sathya Sai Baba

“Amem ao próximo como a ti mesmo”. Jesus

A paz é um valor universal, é também um anseio humano compartilhado por todas as raças, culturas, filosofias e religiões do mundo. A construção de uma cultura de paz deriva, em ultima estância, da qualidade da nossa relação com nossa interioridade, e isso se reflete na maneira de nos relacionarmos com os demais, além de definir nossas escolhas na vida. Qual a importância de estar vivo, qual o seu significado, valor e objetivo? São perguntas que cedo ou tarde todos nós teremos que nos fazer. É importante perceber que a paz se enraíza numa dimensão sagrada do nosso ser. A paz não encontra sustentação nos valores do individualismo liberal e separatista que norteiam nossa cultura. Os valores desumanos e egoístas fundamentam a violência e a exclusão, por isso causam infelicidade, medo, dominação e injustiça. Então o que fazer para construir a paz? Quais os valores que devem nortear uma cultura de paz? Para vivermos a paz, e em paz é preciso ir além dos limites do imediatismo e da ética individualista e hedonista que permeia a sociedade mundial. Esses valores egocêntricos alicerçam uma visão destorcida do mundo, das relações familiares, do trabalho, da sociedade, e da natureza. A paz é construída passo a passo, palavra a palavra, com gestos amorosos de mãos espalmadas e desarmadas dispostas ao acolhimento. É inegável que estamos sendo forçados a refletir sobre o fato de que nosso tempo é agora e que precisamos andar juntos com passos determinados em direção à paz. Esse é o caminho que nossas almas nos incentivam a trilhar se quisermos subsistir como espécie. Para isso temos que questionar nosso próprio comportamento, valores, prioridades e atitudes. Nossos conflitos internos geram conflitos externos; conforme vamos apaziguando nossos medos, raivas, mágoas e frustrações vamos pouco a pouco, nos tornando agentes de paz. Trata-se de uma pratica cotidiana constante, que transforma confrontos em encontros, e descortina novos horizontes corrigindo rotas e rumos, que redefine modos de pensar, sentir e agir. Paz não significa apenas ausência de guerras e conflitos entre nações, nem momentos de calmaria emocional individual. A paz é um estado de consciência, o patamar de onde partimos para libertar nossa mente aprisionada a si mesma pelos fios dos medos, preconceitos, e dos desejos não realizados. O alicerce da paz é o desapego dos condicionamentos limitadores, culturais, raciais e religiosos; também é importante saber reconhecer os mecanismos internos e externos que criam falsos desejos e necessidades artificiais. Para isso precisamos ouvir o próprio coração e saber o que realmente é importante para nós, então agir e oferecer o resultado das nossas ações a dinâmica da vida, sem as amarras das expectativas. À medida que conseguimos abrir mão de hábitos e conceitos arraigados permitimos que as transformações aconteçam, e de modo geral nossa percepção se refina e nossas capacidades progridem. A paz começa em nós e conosco. Não bastam discursos e intenções de construir a paz, é preciso saber que a paz é um compromisso amoroso da alma individual com as outras almas. É preciso descobrir a importância de ser humano, unindo o homem natural ao homem intelectual e espiritual. A Paz se constrói mediante o respeito e a aceitação da pluralidade racial, cultural e religiosa para que possamos resgatar pelo coração o verdadeiro significado de liberdade, igualdade e fraternidade. Sem viver os valores humanos qualquer discurso sobre a paz torna-se um discurso vazio. Na construção da paz, os valores humanos e os direitos humanos caminham juntos. Os direitos humanos seriam naturalmente respeitados se vivêssemos os valores humanos no cotidiano, então seguramente a paz reinaria soberana. Todos nós somos convocados para essa tarefa, embora muitos não aceitem o chamado, e se recusem a participar da construção de uma cultura de paz. É preciso acreditar que somos capazes de ser pacíficos e pacificadores. Um mundo melhor, e um modo de vida mais condizente com as aspirações legítimas do nosso ser, subjaz na nossa própria consciência e é nela que reside a solução. Estamos perplexos diante da complexidade do momento civilizatório, mas como dizia Martinho Lutero: “O homem nunca voa tão alto como quando não sabe para onde está indo”. Vivemos um tempo de incerteza e perplexidade, é hora de criar novas rotas de vôo. Podemos viver e promover a paz a partir da pratica do amor fraterno desde a família, e criar uma inovadora maneira de conviver com as diferenças. Buscar o encontro e não o confronto visando o ponto de contato, e oferecer ao mundo nossa peculiaridade como contribuição amorosa e competente. Desse modo nos capacitamos para servir e amar a vida mais do que a tememos.

A Espiritualidade nas Empresas

“Uma revolução mais poderosa e penetrante que qualquer outra já experimentada pelo homem, sem ser política, cientifica ou tecnológica, porém muito mais profunda, está acontecendo agora. É a revolução espiritual, que tem amor tanto no seu significado como nos seus fins. Ela vai despertar as fontes de amor por todo o mundo, nos campos da educação, moralidade, ética, leis, política, comercio e ciência”. Sathya Sai Baba

Vivemos no século XXI uma transição inédita na historia das civilizações. A transição para a unidade dos homens, da economia mundial compartilhada e da cidadania planetária. A criação de um macro estado global será conduzida por lideranças que aprendam a servir a vida pela cooperação ao invez de destruir a vida pela arrogância e dominação. Todos nós estamos cientes dos resultados desastrosos promovidos pelo nosso antropocentrismo, egotismo, ganância e separatismo. Atualmente, a maioria das lideranças está a serviço de si mesma, ferindo a ética e desrespeitando a confiança nelas depositada. A partir do século XIX instituímos o paradigma que indicou ser a ciência e o crescimento econômico o único caminho para a harmonia e a felicidade. Agora constatamos perplexos que com isso colhemos violência, desalento, desemprego, degradação ambiental e corrupção dos valores éticos, morais e espirituais. A sociedade industrializada e materialista construída sobre esse modelo demonstra franca decadência, e para que as transformações fundamentais ocorram temos que admitir que estamos diante de um desafio de consciência. Nosso mundo está sem fronteiras externas, e as comunicações instantâneas, a tecnologia, e a velocidade dos transportes e meio de comunicação, encurtaram distancias físicas e culturais, mas não conseguimos compatibilizar nosso universo interior com o exterior. A ciência fez descobertas extraordinárias sobre o DNA humano, animal e vegetal e melhorou a qualidade da saúde com remédios, vacinas e técnicas cirúrgicas extraordinárias. É verdade também que incrementou a produção e o teor nutritivo dos alimentos, também clonou e modificou geneticamente plantas e animais e pretende clonar seres humanos, mas, com tudo isso, ainda se vê impotente diante de doenças malignas, e de novos vírus mutantes, assim como do recrudescimento de doenças endêmicas que todos acreditavam estar erradicadas. Por outro lado, a tecnologia também é responsável pela ameaça bélica do enorme arsenal nuclear das superpotencias econômicas. Nossa ganância e inconsequencia põem em risco a continuidade da espécie humana e da vida no planeta. Seguramente sabemos mais do que nunca sobre nossa fisiologia, e sobre as leis naturais; invadimos a intimidade do átomo e descobrimos zonas inexploradas do cosmo, porém estamos desconectados da nossa verdadeira identidade. Nós apostamos todos os trunfos na ciência e no poder econômico como portadores de harmonia, progresso e felicidade, e perdemos. Separamos objetividade de subjetividade e distanciamos razão de sensibilidade. A inversão de valores e prioridades nos alijou da capacidade de ouvir a voz silenciosa da alma, e as concessões exigidas pela sobrevivência, assim como a busca de ganhos materiais deixaram cicatrizes profundas no nosso coração. Na ânsia de gozar a vida e vencer na vida exigimos tanto de nós, dos outros e do mundo que desaprendemos como conviver, usufruir, contribuir e reverenciar o milagre da vida. Extraímos tanto da vida que a empobrecemos e banalizamos. Fala-se muito em sustentabilidade, porém sem a transformação dos indivíduos, o desenvolvimento sustentável é um discurso vazio. Estamos descobrindo a duras penas que só pode ser considerado progresso verdadeiro aquele que passar pelo filtro do coração humano. Diante dessa crise e de tantos desafios só nos resta ultrapassar resistências e cruzar a fronteira que separa o mundo exterior do nosso mundo interior. Unificar o mundo exterior com o mundo interior é a grande tarefa da modernidade. Todos os seres humanos têm uma meta comum, ser feliz e viver em paz e prosperidade. Se quisermos atingir esse objetivo e ser mestres do próprio destino temos que conhecer a plenitude de nossas potencialidades. Para isso, é preciso compatibilizar o espírito e o mundo, os valores de sobrevivência e os valores de transcendência. Teilhard de Chardin disse certa vez que não somos seres humanos passando por uma experiência espiritual; porém seres espirituais passando por uma experiência humana; descobrir isso muda o prisma através do qual se enxerga a vida. Para muitos racionalistas o conceito de valores humanos e espirituais como alicerce da construção de uma nova sociedade é fantasia, uma maneira de ignorar o poder corruptor da problemática resultante da inversão de valores éticos e morais que prevalece no mundo todo. A lógica pragmática duvida e argumenta que a falta de caráter e de ética, a promiscuidade e a violência estão arraigadas na cultura dos povos. Porém, o ser humano é capaz de transformações surpreendentes desde que permita que sua alma se expresse e crie beleza. Arnold Toymbee disse certa vez: “A doença da sociedade moderna está tão enraizada que só pode ser curada por uma revolução espiritual no coração e na mente dos seres humanos”. Certamente somente valores espirituais podem provocar transformações estruturais na consciência. “A consciência é Deus” diz o Mandukya Upanishad (escritura sagrada hindu). Os valores humanos universais fundamentam a consciência e definem uma ética diferenciada porque são os princípios que nutrem e definem o caráter. E o caráter é o instrumento do qual a consciência se vale para se expressar. Mesmo aqueles que criticam ou negam a espiritualidade são forçados a admitir que ainda não apareceu nada mais eficiente que os valores espirituais e humanos para ultrapassar enquadramentos e estabelecer novas ordens. A intenção é a alma da vontade e esta corresponde a qualidade da ação, e uma ética que revela a qualidade do caráter nasce do sentimento e não da razão. Sem sentimentos e sem a espiritualidade desenvolvemos uma ética formal, uma etiqueta. Precisamos de lideres servidores, legitimados pela pureza de espírito e de propósitos grandiosos; para tal é preciso compreender a liderança como produto da espiritualidade, ou seja, do sentimento consciente de que somos unos com todas as manifestações de vida. Estamos tão comprometidos com objetivos e metas que nos esquecemos que não vivemos apenas de feitos e fatos, visando lucros muitas vezes vivemos o logro. Desconectados da nossa realidade mais íntima desconhecemos o verdadeiro sentido de estar vivo. Não basta administrar a moeda, os lucros, o mercado, e criar estratégias para estar inserido na globalização e sobreviver aos seus efeitos e imposições. É preciso acreditar num desenvolvimento justo e sustentável a partir do resgate da dignidade humana. Mahatma Gandhi falava que a política deveria se caracterizar por gestos amorosos com e para o povo, e constante atenção e cuidado com a cidadania. Sei que podem argumentar que isso é uma utopia. Porém, utopia não quer dizer lugar nenhum é um convite para entrar num manancial de possibilidades e criar o novo. É a nascente de onde brota a autoconfiança, o poder de concretizar sonhos, e desenvolver a excelência humana. Afinal, Gandhi demonstrou na pratica o poder da fé no ser humano, e no sagrado, sua vida foi exemplo do quanto os valores espirituais universais e permanentes atuam como inspiração transformadora. A sobrevivência é sustentada pela transcendência. A transcendência é inerente a condição humana e se revela na capacidade de criar e transformar sistemas para estabelecer novas realidades. Para muitos a transcendência consiste apenas em um conjunto de códigos religiosos atravéz dos quais nos capacitamos para viver com dignidade. Acredito que a transcendência independe de religiões porque é expressão livre do espírito e força propulsora para a auto-superação de defeitos, hábitos, crenças e atitudes. Nossa capacidade de transcender movimenta a energia amorosa que constrói o olhar de ultrapassagem do ego-personalidade para a busca do encontro e não do confronto, e por isso gera parcerias competentes e férteis. A capacidade de transcender revela a plenitude da nossa humanidade. Transcender é superar limitações auto-impostas e experimentar novas alternativas e estratégias, transformar o estabelecido, e transfigurar padrões de conduta e padrão de crenças.Unificar técnicas e princípios, o que fazer, por que fazer, e para quem fazer, confere uma nova dimensão ao nosso trabalho. A alegria de criar, partilhar e oferecer o melhor de si renova talentos e nos permite construir juntos mais uma curva na espiral da evolução humana. Os valores espirituais eternos quando despertados são inspiradores de mudanças estruturais na consciência. Esses Princípios são: Verdade, Retidão, Amor, Paz e Não-Violência. Neles se enraízam os valores humanos e a formação do caráter. Vivendo valores humanos nossas ações no mundo tornam-se corretas, criativas, competentes e transformadoras porque nos sintonizam com a Ordem Universal e Suas Leis.

A Transculturalidade e a Globalização

Estamos sendo compelidos a encarar nossas fragilidades, nossos desacertos, valores artificiais e falsas necessidades sobre os quais estruturamos nossa visão de mundo. As lideranças empresariais sentem os efeitos dos abalos que seus fundamentos sofrem e se vêm perplexas e sem bússola navegando num mar de incertezas. Muitos métodos operacionais oferecem técnicas e competências novas e, no entanto nada muda; isso porque quem precisa ser tocado e mudado é o ser humano. Senão as competências adquiridas se tornam um fardo e não servem como instrumentos para a expressão criativa e realizadora dos talentos. Programas de treinamento a meu ver devem estimular as pessoas a se autoconhecer, crescer, criar e ousar lidar com os desafios superando erros e apegos aos hábitos adquiridos. É preciso acreditar no quanto a transformação individual pode influenciar e contribuir para a transformação da instituição e da própria sociedade. Os padrões e valores impostos na família e nos negócios estão sendo colocados em cheque mate assim como sistemas políticos e econômicos. Esses modelos e valores já não suprem nossas necessidades nem correspondem às dinâmicas da sociedade compemporânea. O escritor futurista Alvin Tofler disse certa vez “A idade da máquina está cantando os pneus para parar”, e é fácil constatar que a tecnologia não é mais um ícone inquestionável e que no lugar de unificar os povos; a cria abismos entre eles. Hoje é necessário conhecer e partilhar valores, costumes e crenças das diferentes culturas para ter um dialogo adequado com o mundo. Não podemos nos esquecer que nas decisões, quer sejam particulares, quer sejam comercias, as emoções têm peso relevante. As culturas se interpenetram pela comunicação instantânea dentro de uma economia interdependente e conhecer os valores essenciais, e o que é sagrado para cada povo é meio caminho andado para o êxito de uma negociação. Talvez por isso muitos consultores empresariais tenham buscado beber na fonte perene de inspiração que são os livros sagrados de todas as Tradições, o conhecimento revelado. Temos necessidade de soluções e propósitos que ampliem possibilidades e significados, e nos aproxime também pelo coração. O conhecimento revelado é aquele que contem em si mesmo a essência e o esplendor da Verdade, por isso aproxima as diferenças e apara arestas. Uma empresa edificada sobre princípios e valores universais e éticos tem clareza de propósitos, e percepção lúcida das circunstâncias sem perder a humanidade e a reverência pela vida. É importante observar que os valores que regem a empresa moderna estão cada vez mais sutis. A qualidade da comunicação interna e o comprometimento social são determinantes na formação da imagem da empresa e na geração de riquezas. A miniaturização dos aparelhos eletrônicos que estão a cada dia mais leves e ágeis sinaliza uma tecnologia menos densa e uma abertura para valores intangíveis. A inteligência do espírito precisa ser levada em conta porque nela reside a criatividade e a libertação da mente humana da prisão do previsível e determinado, e nunca foi tão necessário recuperar a capacidade de transformar, flexibilizar, ousar e inovar. Conhecimento e informação são bens preciosos, mas o poder maior está no caráter. Sem caráter o conhecimento pode destruir a vida. Informação é poder circunstancial, mas a sabedoria abre novos caminhos e anuncia como agir diante deles. O autoconhecimento é fundamental. Investir em si mesmo entusiasma o coração, acrescenta um novo brilho ao olhar e descortina novas perspectivas. A espiritualidade não é religião, porque é adogmática, não fanatiza nem subestima a razão, na verdade é o que lhe dá lustro e lastro. O despertar da consciência espiritual conduz ao comportamento ético naturalmente. Mas, o que é espiritualidade? É sentir e viver a unidade na diversidade da criação. A espiritualidade é uma dimensão natural do potencial humano não deve ser confundida com religião. As religiões são diferentes maneiras de buscar a espiritualidade; e esta é a meta comum a todas elas. O crescimento espiritual é adquirido pelo desenvolvimento humano que tem na pratica dos valores humanos seu ponto de partida. A universalidade dos valores espirituais pode ser encontrada nas afirmações de santos e sábios de todas as raças e tradições. “Eu e meu Pai somos um” Jesus. Cristianismo. Annul Haqq: Eu sou a Verdade. Islã. So Ham: Eu sou Ele. Hinduismo. Ain Sof: O Sopro Divino em cada um. Judaísmo. Para nos adequar ao momento histórico devemos viver plenamente o poder do agora, mas podemos sempre nos inspirar no eterno e compreender nossa historia e os caminhos indicados pelos forjadores de sabedoria. No Tao Te King de Lao Tzu, no capitulo 76 está escrito: “Os homens nascem suaves e maleáveis; mortos, ficam duros e rígidos. As plantas nascem tenras e flexíveis; mortas ficam secas e quebradiças. Assim, quem for rígido e inflexível é um discípulo da morte. Quem for suave e flexível é um discípulo da vida...”. As organizações empresariais que optam pela flexibilidade criativa e permitem que seus funcionários se libertem da armadura do controle de um sistema de planejamento apoiado em expectativas e normas inflexíveis se revitalizam constantemente. Jesus disse: “Em verdade vos digo: aquele que não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele” ( Mc 10,15) . Ao afirmar isso Jesus não nos pede que sejamos infantis ou ingênuos, mas que estejamos desarmados e por inteiro naquilo que fazemos, e permitamos a constante renovação interior e o deslumbramento das crianças diante do novo. As crianças têm o poder da concentração sem esforço, o foco indiviso que conduz a união com o Si mesmo. Daí nasce a participação amorosa, a cooperação efetiva e a qualidade plena. Somente quando interagimos afetivamente, e acreditamos na inteligência do coração podemos ser inspirados, porque a partir daí o intelecto torna-se um servidor do espírito e um agente de transformações. Desse modo, o jugo será leve e a alegria de contribuir e partilhar surge como um estado anunciado pela alma acrescentando um brilho diferenciado ao que pensamos, sentimos e fazemos. É preciso por o amor para trabalhar. Embora não pareça, o amor é pragmático. Uma ação amorosa beneficia muito além dela mesma e mobiliza o coração do beneficiado e do benfeitor provocando por ressonância uma reação em cadeia. A empresa do novo milênio não desconhece o poder revolucionário do amor nem manipula a ética impondo comportamentos como uma fachada vaidosa enquanto a estrutura organizacional permanece emperrada, egocentrada e controladora. A ousadia de inovar mostra como ultrapassar o trágico e entrar no mágico, no sonho, porque toda nova realidade nasce de um sonho e toda a vida de um ato de amor. O amor aproxima, difunde e diversifica-se até permear e preencher tudo e todos. A Bagavad Gita, uma escritura sagrada do hinduismo ensina que o amor é uma energia que tudo permeia, une, sustenta e transforma. Num dos versos desse livro sagrado Krishna fala da importância do líder, diz que um mau líder contamina não somente seu reinado, mas a era em que vive. Penso que é chegada a hora das lideranças da nossa era entrarem no santuário da alma para escolher propósitos e valores que definam as relações do homem consigo mesmo, com o semelhante, o trabalho, o planeta e o divino. Não podemos mais colocar remendos novos em roupa velha, como disse Jesus. É preciso fazer uma outra roupa com tecido novo. Estamos na aurora de uma sociedade mais harmônica e justa, prestes a surgir como Jonas, do ventre escuro e inóspito da baleia, e ser guiada pela luz da consciência. A empresa desempenha um papel estrutural nessas transformações paradigmáticas, o poder governamental por inépcia e descaso abriu lacunas profundas que a agilidade e eficiência empresarial podem suprir. A era da consciência é a era da visão sistêmica interdependente e será nutrida e expandida pela ação consciente e amorosa dos homens em sociedade trabalhando a serviço da vida.

Educação e Espiritualidade - A Pedagogia do Ser

Seguramente você como eu já se perguntou algumas vezes o que é verdadeiramente importante para você, e porque age e reage dessa ou daquela maneira recorrente diante das situações que se apresentam na sua vida. Outras questões que nos afligem estão ligadas a como e o que fazer para cicatrizar as feridas antigas e as novas, como perdoar, desapegar-se, inovar, ousar, enfim encontrar as peças que faltam para montar o quebra-cabeça interior. Esses questionamentos são etapas do autoconhecimento. A jornada rumo à autoconsciência, começa pelo dialogo com o ego, a personalidade. Esse diálogo conduz a auto indagação para descobrimos qual é nosso padrão de crenças, e quais os valores que pautam nossa conduta e maneira de sentir, compreender e agir no mundo. Na verdade temos apenas consciência parcial das idéias, emoções e sentimentos que armazenamos, criamos e movimentamos dentro de nós. Para saber mais e viver uma vida plena, é preciso conhecer nosso universo interior em profundidade, e no mundo exterior procurar harmonizar subjetividade e objetividade, razão e sensibilidade, enfim , o espírito e o mundo. Somente assim poderemos ser, e formar agentes de transformação, como co-criadores de um mundo mais humano, justo, prazeroso e mais harmônico. A educação tem um papel estrutural na construção desse novo mundo a partir da formação do caráter dos indivíduos. Nossa sociedade materialista, desde o século XVIII, abraçou o Iluminismo como único caminho, por isso priorizou a informação, e menosprezou a formação e o conhecimento-sabedoria. Reconheceu apenas as faculdades do raciocínio e dos sentidos como legitimas e suficientes para nos conhecermos, e ao mundo. Por isso, prometeu muito e entregou pouco. As profundezas da nossa mente subconsciente, inconsciente e superconsciente, e suas ricas imagens arquetípicas, assim como os símbolos que refletem nossos anseios profundos foram, e continuam sendo desconsiderados no processo educacional. Apenas os dados analíticos, mecânicos e técnicos são considerados importantes e úteis. Desse modo a educação desconhece outras técnicas mais criativas de apresentar o conhecimento que emerge do contato com a interioridade. Por preconceito cultural, o sagrado foi ignorado e faculdades humanas sutis como a intuição e a espiritualidade foram consideradas sem finalidade. Porém, os questionamentos fundamentais sobre o significado da vida, e o sentido de estar vivo no contexto existencial de cada um, passam pela filosofia, e mais ainda, pela espiritualidade. Isso acontece independente da opção por qualquer religião específica ou mesmo por nenhuma. A espiritualidade é uma dimensão natural do ser humano, por isso permeia a historia dos povos e provoca transformações individuais e sociais. Os fundamentos estruturais da consciência humana são os valores espirituais que são imutáveis. Todas as culturas, filosofias e credos, têm como denominador comum os valores morais e éticos que se enraízam na espiritualidade, e estes definem a maneira de pensar, sentir e agir. Não se trata de um código de conduta imposto de fora para dentro, mas do despertar consciente dos valores que constituem nossa identidade humana. A ciência e a tecnologia nos apresentam atualmente maravilhas que nos permitem maior longevidade e melhor qualidade de vida. Mas, também trazem questões éticas, estéticas e espirituais sem precedentes, como a fertilização in vitro, a engenharia genética e o prolongamento artificial da vida, etc. Essas questões implicam valores e escolhas com relação ao mundo onde queremos viver e o que queremos oferecer aos nossos descendentes. Uma educação baseada em valores humanos abre perspectivas transformadoras porque capacita o professor e o aluno(a), para compreender melhor seu papel no momento histórico, convoca-o(a) a fazer a diferença. Educar em valores humanos esclarece que o verdadeiro progresso passa pelo filtro do coração humano. Progresso a serviço do que e de quem, é o questionamento a ser feito. Ciência, espiritualidade, tecnologia e filosofia devem andar juntas porque aproximam o pratico do abstrato e o útil do prazeroso e belo. É verdade que cada vez mais constatamos a proximidade entre ciência e espiritualidade. As escrituras sagradas, especialmente as orientais têm enriquecido o trabalho de físicos quânticos como Amit Goswami, Ilya Pregogine, Fritjof Capra, Gary Zukav e outros. Essa proximidade promove a unidade do conhecimento, permite que a educação contemple o desenvolvimento integral do potencial humano. É interessante notar que esse conceito moderno de física corresponde ao pensamento hinduísta, taoista e budista que acredita que toda e qualquer coisa inclui simultaneamente todas as outras em perfeita integridade. Todos em um e um em todos. Aliás, o oriente não compartimenta o conhecimento e nunca levou os limites muito a sério. Os hindus e budistas, por exemplo, acreditam no Dharma e os taoistas no Tao, duas versões da mesma totalidade. Eles crêem na realidade não dual, não acreditam como nós ocidentais em pecado original nem exílio do Éden, e encaram os limites auto-impostos como ilusões. Por isso todas as coisas e eventos, e os aparentes pares de opostos são considerados complementares, interdependentes e interpenetrantes. Grande parte do pensamento ocidental ainda agarra-se a limites paradigmáticos, padrões de crença dogmáticos, apesar do atual e revolucionário pensamento quântico. A visão acadêmica do conhecimento continua ortodoxa e conservadora. Certamente o conhecimento da Realidade ilimitada assusta porque liberta e confunde, e isso acontece porque em essência é muito simples. Essa simplicidade essencial permeando tudo que existe é o ponto de mutação. Estamos sempre procurando delimitar espaços, experiências e relações, e isso potencialmente convida a violência, ao confronto e disputa pelo poder. Só para exemplificar a visão limitadora: Quando olhamos uma paisagem não vemos fragmentos, mas a totalidade das formas, e constatamos padrões, cores, texturas e volumes diversos entremeados e integrados, mas não nos damos conta disso, e a visão separatista prevalece. A consciência da unidade é a consciência sem limites, nem separações. É chegado o momento de transformações fundamentais, os povos do oriente e ocidente se reintegram cultural, política e economicamente numa Terra sem fronteiras. Novos desafios se apresentam e a perplexidade diante da instantaneidade das comunicações, e do obsoletismo relâmpago das conquistas tecnológicas anuncia quebra de padrões. Porém, para sair de um problema temos que passar por ele, e estamos passando por um sério impasse saindo do complicado para o complexo, e aos poucos descobrimos que o impossível não existe, é uma criação do medo limitador. Tudo isso abre um enorme leque de possibilidades. E a educação é certamente o fio condutor de transformações fundamentais na consciência humana e na sociedade. Daí ser necessário adequar-se as necessidades do mundo objetivo e de outros mundos dentro, acima e além. A educação precisa admitir que o ser humano tem necessidade de conectar-se com o Mistério, transcender a si mesmo, e criar novas realidades. Para tal deve suprir as necessidades matérias e espirituais do educando, compreender a consciência como criadora e ilimitada, e estabelecer o dialogo inovador entre ciência e espiritualidade. As questões do espírito devem ser abordadas naturalmente, se quisermos uma educação que promova competência e felicidade, e forme seres humanos dignos que reconheçam o caráter como o verdadeiro poder. Uma educação que integre saberes deve ser antidogmática, instigante e criativa, e buscar novas linguagens e técnicas pedagógicas que permitam expandir a consciência dos alunos a um nível que os conduza para alem deles mesmos, e descortine o universo vasto e sutil do transpessoal, a travessia pelos diferentes aspectos da realidade. Para isso é preciso ousar romper com dogmas materialistas, racionalistas e religiosos, e enfocar os conteúdos transmitidos sob ângulos mais amplos, visando novos campos e modos de aplicação do conhecimento. Dentre as técnicas a serem utilizadas estão a meditação, a visualização criativa, as diversas mitologias e a linguagem simbólica ,assim como o estudo das tradições espirituais da humanidade, o reencontro com a natureza e as artes como expressões do Ser. A educação do Ser passa pela ética da alma, os valores humanos e espirituais. O psicanalista Carl Jung afirmou a importância dos símbolos, mitos, sonhos e visualizações, como instrumentos de revelações para a mente consciente romper barreiras conceituais. Novas realidades são concretizadas a partir da visualização criativa, do contato profundo com o nível imaginal, o transcendente, e o universo interior. Daí os valores humanos emergem, a vontade é fortalecida, a intenção adquire mais foco e força, e mobiliza a vontade na direção correta, e consequentemente a qualidade da ação é aprimorada. Algumas dessas técnicas já são utilizadas no mundo todo para aperfeiçoar o desempenho de executivos e esportistas. O famoso jogador de basquete Michael Jordan visualizava suas jogadas interiormente antes de cada jogo. Construía antecipadamente seus saltos que desafiavam a gravidade porque conseguia ficar alguns segundos a mais no ar ao lançar a bola na cesta. Todos nós vimos maravilhados que ele conseguia essa incrível proesa com facilidade. Porque não utilizar na educação uma técnica tão eficiente quanto a visualização criativa para potencializar talentos e ultrapassar defeitos, entraves, preconceitos e vícios? O investimento na autodescoberta é o caminho para revelações que nos permitem sair do trágico para o mágico, do medo para o amor. As mitologias nos ajudam a determinar a essência das coisas, o que fazer com elas e como agir diante delas. Os mitos exemplificam valores e proporcionam sentimentos e entendimentos que descrevem não apenas os fatos, mas a nossa percepção e experiência deles. Eles demonstram que apesar das coisas aparentemente não terem um sentido coerente, tudo tem um sentido oculto maior e mais profundo. As pessoas, suas culturas, mitologias e religiões, assim como a natureza estão interligadas esão expressões do Sagrado. A arte é outro aspecto muito importante numa educação em valores e todas elas devem ser usadas não como artifício ou artimanha, mas encaradas como manifestação e linguagem legítima da alma, pois são portais que se abrem para o dialogo com o espírito e provocam a emergência do Belo, do Bem e da Verdade. Outro aspecto básico é a educação dos sentidos. Somos seres multisensoriais e não apenas pentassensoriais, temos sentidos externos e internos que precisam ser desenvolvidos e refinados. A educação atual não se detem sequer nos cinco sentidos básicos, apesar de considerá-los o principio e o fim de toda informação. Aprender a disciplinar os impulsos e desejos capacita o aluno a se assenhorear da sua natureza instintiva, a não ser escravo dos próprios sentidos e impulsos, para não tornar-se uma vitima indefesa de si mesmo e das circunstâncias. O refinamento, e a disciplina dos sentidos externos e internos acalmam a mente e definem o comportamento, aperfeiçoam o intelecto, além de configurar padrão de crenças e orientar a escolha de prioridades. Educar os sentidos passa forçosamente pela auto indagação e reflexão sobre os próprios atos. A meditação é uma técnica muito eficiente porque sua pratica sutiliza e amplifica a percepção, e facilita o acesso ao universo interior, e ao Sagrado. Dessa maneira indica como evitar os excessos que corrompem o corpo e a mente, a medida que favorece a autoconfiança, a lucidez, e o equilíbrio entre corpo, mente e espírito. O aprimoramento dos sentidos confere uma dimensão nova ao prazer de ver, ouvir, falar, sentir gosto, cheirar e tocar. A qualidade do prazer se refina, e o corpo permite ao espírito atuar e transformar concretamente as coisas e pessoas com as quais nos relacionamos. Afinal somos uma alma num corpo vivendo uma extraordinária aventura de consciência, e despertando pela nossa conduta e ações no mundo, outras consciências para esse milagre. O autoconhecimento, a disciplina e o aperfeiçoamento dos sentidos são a base da ética e da estética do Bem. Educar para o Futuro começa agora. Autoconhecimento, espiritualidade e valores humanos são os pontos de partida para uma educação integral e integradora, que visa a formação de seres humanos felizes e competentes. O simples fato de conhecer modifica o conhecido, e viver modifica o vivido. É verdade que o saldo do século XX não foi animador, mas os valores atemporais nos vinculam uns aos outros, e a educação é transformadora. Precisamos ter sempre presente que a educação é o celeiro onde armazenemos nossos lideres e os forjadores de sabedoria. Porém, não podemos seguir com uma educação que desconhece o poder da alma. a intuição, e divide a percepção e a compreensão em compartimentos tais como, corpo versus espírito, vida versus morte, ciência versus espiritualidade, homem versus mulher, ser humano versus natureza, separando sobrevivência de transcendência. Como testemunhamos atualmente, o resultado dessa separação é a vida lutando contra a vida, o que tem resultado em violência e infelicidade. A felicidade está na confluência das dimensões objetivas e subjetivas do ser humano e nenhuma descoberta cientifica, ou dogma religioso resolverá nossos problemas.
Porém nada é mais forte que a vida e sua magia. Despertar consciências e ativar a divina alquimia interior para transformar ignorância em sabedoria é prerrogativa da educação.