quarta-feira, 21 de julho de 2010

A Ética do Mando e a Legitimidade

“Para alcançar o conhecimento acrescente coisas todos os dias. Para alcançar a sabedoria, remova coisas todos os dias”.Lao Tse

O que é viver? Será que o trabalho é a razão de viver, e qual a missão do homem? Será estudar, ter uma profissão, arranjar um emprego ou empreender um negócio, e executar tarefas pelo resto da vida? Casar, ter filhos e os sustentar e educar? Tudo isso faz parte da realização pessoal, mas a verdadeira autorealização ocorre no autoconhecimento. Temos metas múltiplas, mas a meta principal é ser feliz. Para isso precisamos descobrir que as virtudes da Beleza e do Bem nascem com conosco e praticando-as permitir que aflore a excelência.Como podemos começar a tarefa? O aprendizado consiste em nos aproximarmos conscientemente da nossa verdadeira identidade, e contemplar os vários níveis de realidade que vivemos com os olhos da razão e da alma. Desse modo o intelecto se amplia e torna-se um servidor do Ser, e a partir de então, começamos a sentir pulsar e irradiar um novo padrão de inteligência e consciência. A mente aprende a superar limites e liberta-se da tirania dos preconceitos. Inseguranças e fixações se dissolvem e assumimos nossa condição de mutantes. Como tudo que fazemos é conseqüência do quanto sabemos sobre nós, e do que sentimos e percebemos dos outros e da vida, a realidade interna transforma a realidade externa. Isso porque o que oferecemos ao mundo, quer sejam idéias, sentimentos ou ações sofrem influencias e influenciam na medida em que compatibilizamos nosso interior com o exterior. Por isso, os valores humanos precisam ser resgatados não como um código de conduta, mas como eixo do que somos, do que fazemos e do que acreditamos. Por traz do que pensamos e valorizamos existe um referencial paradigmático que é determinante. Nosso arcabouço mental é o filtro pelo qual passa a qualidade da nossa percepção. Portanto, viver valores humanos é o desafio maior na construção do novo, isso porque resgatar esses valores é resgatar nossa humanidade. É preciso ousar e se dispor a transformar e reorganizar o que acreditamos ser fundamental. E a partir daí perceber que da mesma maneira que construímos um paradigma somos capazes de ultrapassá-lo e criar uma nova visão de mundo. Descobrir por exemplo, que viver virtudes não é um ideal dissociado das contingências do mundo concreto, e das nossas necessidades de sobrevivência. Numa sociedade equivocada, o agir correto é o meio que dispomos para torná-la melhor e mais justa, a partir das nossas próprias ações e atitudes. Porem, é importante ter sempre em mente que o correto e o bom nem sempre andam juntos, e desenvolver um olhar que reconheça quando a obediência significa desrespeito, e desobedecer uma maneira de respeitar. Enquanto estivermos lutando prioritariamente pelo efêmero como: fama, poder, posição social e dinheiro a qualquer preço, estaremos alimentando um modelo de sociedade que nos está destruindo, e ameaçando a vida no planeta. Como mudar isso? Basicamente reconhecendo que a vida é sagrada. Viver a impermanência com leveza, sem apegos, e reconhecer a interdependência de todas as formas de vida. A união consciente do intelecto com a alma é fundamental para o conhecimento de si mesmo. Nosso corpo físico é conformista e tende a adaptar-se até ao que lhe é incomodo, já a nossa alma é inconformista e tem sede de transformações. Conectados com a alma baseamos nossa vida no movimento. Ela dita os princípios espirituais eternos, e guiados por eles nos tornamos mais lúcidos, e mais equilibrados emocionalmente; portanto mais organizados, criativos e produtivos. Conseqüentemente colocamos nossos talentos naturalmente à serviço da vida O trabalho ganha mais alegria e maior significado, e os deveres levesa. Os valores espirituais permanentes são o alicerce da consciência humana. Por isso, é importante vive-los e implementa-los na família, na empresa e na sociedade, e assim fomentar ações orientadoras de um novo paradigma. A Mãe Terra nos convoca para transformações profundas de consciência, não podemos continuar agindo como vírus destruidores do planeta, pelo contrário, devemos ser seu sistema imunológico. E para isso é preciso viver corretamente, fugir do comodismo e aceitar que somos seres em constante aprendizado. O que é viver corretamente? A ação correta se enraíza na capacidade de ser verdadeiro consigo mesmo. É a ação resultante da coerência e inteireza do caráter, e sua repercussão embora imprevisível é sempre transformadora. A evolução biológica, tecnológica e científica deve caminhar junto com a evolução da consciência. A proposta transformadora que se apresenta é viver valores humanos como ponto de partida. Olhar a vida sem medo, e reconhecer sua complexidade como um convite para abrir portais de possibilidades e soluções. O atual sistema de valores entende a vida como complicada, isso nos amedronta e estimula conformismo, acomodação e desalento. A tecnologia, a ciência e o conhecimento não são suficientes para nos direcionar para um mundo melhor e menos ameaçador. A pratica dos valores humanos gera transformações estruturais na consciência e desperta a disposição interna de servir a propósitos grandiosos. Viver valores humanos cotidianamente garante o respeito às obrigações e aos direitos humanos. Somente a transformação do individuo gera a transformação da sociedade. O despertar consciente dos valores é fundamental para a diluição da violência e das discrepâncias educacionais e econômicas que resultam num crescente exercito de excluídos, e fomentam feridas no tecido social. Nossa verdadeira vocação é ouvir a voz silenciosa da alma e comungar com o universo, a natureza e o semelhante. É preciso ousar transgredir os parâmetros de um modelo de vida que nos tornou solitários, infelizes, impiedosos e amedrontados. Com coragem, “cor cordis”, coração, “agire”, agir com o coração, ou seja, viver a vida reconhecendo a inteligência do coração, essa é a convocação. Pelo poder do espírito integrador é possível construir um novo modo de coexistência. Podemos ser emissários dessa fé e dessa freqüência de energia transformadora, reaprendendo a espiritualizar a matéria e a curar o antigo cisma entre corpo e espírito, mente e coração.

Liderança em Valores Humanos

Os princípios são o lustro e o lastro do caráter. Constituem os fundamentos da consciência, por isso definem valores e estruturam propósitos e lideranças. Esse tipo de liderança não precisa procurar como servir a sociedade e atuar profissionalmente com dignidade, a opção se apresentará por ressonância, naturalmente. É importante frisar que numa liderança baseada em valores humanos, a capacidade operacional, a flexibilidade, as habilidades para lidar com o inesperado, e a integridade do caráter legitimam o poder. A partir de suas lideranças e seus princípios, a empresa se reinventa e se abre corajosamente para a potencialidade, a responsabilidade civil e a abundância. A pratica diária dos valores humanos é o ponto de mutação na qualidade da convivência e dos propósitos de uma instituição. Quem lidera e pratica os valores humanos sabe que só é rígido e prepotente quem não sabe amar, pois quem sabe amar é firme, justo, compreensivo, solidário e naturalmente autoconfiante. Por isso o líder em valores acredita na circulação do poder. Numa administração circular o líder reconhece que o comando troca de mãos dependendo das exigências operacionais de um projeto, e não se sente ameaçado ao transferir responsabilidade e autonomia. As parcerias se formam naturalmente entre os companheiros de trabalho e a criatividade aflora sem esforço. Nesse tipo de liderança o importante é o empenho e não o esforço porque o líder se disponibiliza para entrar no fluxo natural da energia do grupo, reconhece os sinais que indicam a trajetória do projeto e se coloca a serviço. Para uma empresa alicerçada em valores humanos os clientes são parceiros de sonhos convidados a viver experiências conjuntas de prosperidade. Cada negocio tratado deve ser lucrativo para ambas as partes senão não é suficientemente bom. Lucro não significa logro, porém, ganho partilhado. Desse modo a disputa desaparece porque não existe vencedor nem vencido, e todos tornam-se companheiros de criação e forjadores de riqueza e progresso. Nesse sistema de trabalho o direito de mandar nasce do altruísmo, a virtude de se adequar circunstancialmente ao semelhante e amorosamente procurar o ponto de encontro e não o confronto. Buscar o que nos aproxima e não o que nos pode afastar. E a partir daí despertar nos companheiros o que eles têm de melhor, estimulando seus talentos e qualidades individuais. Embora para muitos a obediência controladora possa legitimar a conduta dos liderados e subalternos, a liderança em valores sabe que estes são inerentes tanto ao líder quanto aos comandados e fomentam respeito, solidariedade e cooperação, além de congregar as diferenças, e tornar os objetivos e metas a serem atingidas uma missão de todos. Os valores humanos despertados na consciência como expressão plena da nossa humanidade legitimam e engrandecem a missão da empresa e dignificam as tarefas cotidianas dos funcionários. Ao exercer o mando o líder precisa unir o que ele é aquilo que ele faz; e viver com destemor e reverência sua natureza interior. Liderar é basicamente servir colocando em movimento harmônico pensamento, sentimento, palavras, competências e ações. Quando se põe o amor para trabalhar tudo torna-se mais fácil, verdadeiro e prazeroso. Outro ponto importante na liderança é o conhecimento da ética da alegria, portadora de leveza, confiança, soltura e otimismo. A ética da alegria fomenta entusiasmo, ”entheos”, quer dizer com Deus, e é a raiz que nutre e avaliza a transgressão a toda forma de mediocridade, intolerância, crueldade e conformismo. A alegria cria um patamar de onde partimos para vôos criativos direcionados pelo Bem, é impossível ferir os outros quando temos alegria no coração. Muitas vezes é preciso ultrapassar as formalidades e seguir o coração, o Ser, tendo o discernimento como força de propulsão para que possamos deixar o amor fluir e receber da alma a inspiração necessária.. As soluções adequadas e a criatividade inovadora nascem de uma inspiração luminosa e “numinosa”, que alimenta uma vontade originária do Ser interior. A interioridade é a morada do espírito que está sempre conectado com a totalidade, e dele brota o respeito pelas diferenças como partes da mesma expressão da vida. Porém, paradoxalmente a ação criativa repousa na dualidade, no fato de expressar a mutabilidade e o indeterminismo porque é portadora do novo. Para desempenhar plenamente sua função, o líder precisa saber lidar com a complexidade dos fatos, circunstâncias e as emoções que permeiam as ações e reações humanas. A liberdade interna deve ser cultivada porque descontamina a visão e redefine significados e prioridades. A descoberta do universo interior, a espiritualidade, permite que nos tornemos algo mais do que já somos. As relações humanas adquirem maior brilho e a honestidade desvela imposturas e aproxima as pessoas pelo coração. É importante lembrar que o semelhante nos afeta do mesmo modo que o afetamos, embora nem sempre pelo mesmo motivo nem com a mesma intensidade. E por meio dessas relações crescer humanamente e desenvolver potencialidades adormecidas. A liderança baseada em valores humanos cria o consenso motivador e inovador e faz de cada uma das pessoas que compõem o grupo de trabalho um portador de transformações. Uma gestão em valores atua com alto grau de eficiência criativa e o mínimo de exclusão, controle, vaidade e constrangimentos. A cooperação assume o lugar da competição compulsiva e a inveja não tem lugar quando vemos no brilho do outro um convite para reconhecermos o nosso próprio brilho e na interdependência dinâmica da complementaridade. Os valores humanos conscientizados e praticados no dia a dia desenvolvem em cada um de nós uma percepção multifacetada da vida, e a constatação da beleza que se revela na diversidade. A partir daí acontece uma transformação íntima profunda e contínua, que reinventa as relações humanas, a liderança, o trabalho, a família e a sociedade.

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