quinta-feira, 15 de julho de 2010

Os Valores Humanos e a Transculturalidade

“O que for a profundeza do teu ser, assim será teu desejo. O que for teu desejo, assim será tua vontade. O que for tua vontade, assim serão teus atos. O que forem teus atos, assim será teu destino”. Brihadaranyaka Upanishad. Hinduísmo.

“Que nada te perturbe, que nada te atemorize. Todas as coisas passam. Só Deus nunca muda. Quem tem Deus não precisa de nada. Somente Deus é o bastante”. Santa Teresa de Ávila. Cristianismo

“A fé é a comprovação obtida pelo coração, a confissão feita pela língua, a ação realizada pelas mãos”. Provérbio Sufi. Islamismo.

“É o caráter firme e gentil que permite que a corda da vida não arrebente na mão de uma pessoa”. Provérbio Ioruba

“Como a flor bela e apreciada, mas sem perfume, apesar de exuberante no aspecto, assim são as palavras bonitas de quem não as pratica”. Budismo: Dhammapada

“O homem deveria se esforçar para ser tão flexível quanto o junco, ainda que tão firme quanto o cedro”. Judaísmo: Talmud

“Seja humilde e permanecerá íntegro. O sábio não se mostra, e por isso brilha. Ele não se afirma, e por isso é notado. Ele não se enaltece, e por isso recebe o mérito. Ele não se glorifica, e por isso se sobressai na excelência”. Taoísmo: Tao Te King, 7

Tradições e mitologias nas empresas

Nessa era de complexidades e paradoxos a cultura tem grande relevância política e empresarial. Pela cultura se manifesta não somente a consciência de um povo, mas a alma nacional. Dentro de uma economia interdependente é de fundamental importância saber dialogar com as diferentes culturas e conhecer os princípios e valores que as regem para que exista uma comunicação harmonica e daí nasçam parcerias férteis. Nossa cultura vem sendo escravizada por idéias, costumes e valores introjetados pela dominação do colonizador desde o início do descobrimento, e as rédeas que a conduzem desde então são as mesmas só mudaram as mãos que as sustentam. Formamos uma sociedade pré-moderna de costumes escravagistas, alheia aos valores humanos, ao bem estar das pessoas e a preservação da natureza. Atualmente 10% dos mais ricos detêm 47% da renda do trabalho; dados que resultam de um modelo perverso que dominou a educação, a cultura, a economia, a produção e as instituições. A submissão cultural nos impõe sua ética e estética e assim define modelos de políticas publicas, hábitos alimentares e culturais, estilos de comunicação, de produção e estabelece padrões de escolhas, ditando o que apreciar e consumir. A alma brasileira foi aprisionada e por esta razão, nossa auto - estima é baixa e nossa verdadeira identidade desconhecida. Precisamos nos conectar com a nossa ancestralidade para construirmos a contemporaneidade de forma responsável e coerente. Com isso não estou defendendo uma cultura fechada em si mesma, até porque seria impossível, além de pernicioso. Até porque, este é o país do acolhimento, onde ninguém é estrangeiro no coração do seu povo. Aqui é o lugar onde o incompatível se compatibiliza. O fato é que a alma brasileira foi abandonada, e toda situação de abandono traz consigo dois posicionamentos: a autopiedade e a inércia, ou a oportunidade de transformações e soluções. Todo movimento de construção inovadora está conectado com as transformações interiores que nos conduzem a novos patamares de percepção e compreensão, que propiciam a oportunidade de transfigurar nosso olhar diante de perdas e desafios. Estamos em ritmo de mudanças e novas realidades sempre nascem de um sonho posto em ação, e se concretiza na medida que nossa autoconfiança e entusiasmo avançam. Assim será a reconstrução da nossa verdadeira identidade como indivíduos, povo e nação. Os valores humanos são estruturais no processo desse despertar de consciência. Pela pratica desses valores revelamos a plenitude da nossa humanidade e redimensionamos o sentido de estar vivo. Acredito ousadia e coragem sejam necessárias para encarar essas transformações com dinamismo e criatividade, dando e recebendo na teia da interdependência, respeitando e interagindo com outras culturas, mitologias, religiões e valores dos diferentes povos.


Arte e Mitologia - A Linguagem da alma

As artes e as mitologias têm papel importante no resgate da alma cativa de um povo porque estão sempre abertas a novas sínteses, e libertam a criatividade das amarras do comodismo porque nascem da nossa interioridade manifestando o poder do espírito. A arte é a expressão da inspiração a serviço do Bem e da Beleza. Por isso devemos compreender a arte como conexão com a beleza, ou seja, o que trazemos de melhor dentro de nós. A mitologia enuncia o universo inconsciente mágico e mítico, assim como as qualidades e valores que sustentam estruturas sociais, éticas, políticas e espirituais de cada povo. A arte e a mitologia descortinam os domínios da alma. O fascínio da mitologia e das artes reside na linguagem simbólica que revela muito mais que a linguagem lógica e do raciocínio analógico. Ambas têm a capacidade de congregar anseios legítimos de ultrapassar limites, descobrir novos rumos e criar o novo. Conceitos e palavras são símbolos assim como rituais e imagens, porém a arte e a mitologia refletem a realidade transcendente que impregna todos eles. Está na hora de fomentar a cultura da integralidade onde nada é isso ou aquilo, mas sempre isso e aquilo. Estamos vivendo no limiar do trágico para o mágico, reencontrando e criando nossos símbolos, mitos e lendas refazendo elos culturais. Nossa história e origem não foram destruídas; apenas ignoradas, e aos poucos estamos reencontrando os mananciais de onde brotaram. A construção da nossa identidade cultural resgata o amor pela e da Mãe Pátria e na quentura do seu colo farto e moreno, ela nos orientará e encorajará para criarmos um modelo brasileiro de organização cultural, social e empresarial. Na organização familiar o amor da mãe nos conscientiza do valor próprio e de sermos portadores de valor, define o nosso lugar no mundo, e os projetos de vida. O amor do pai provê e ensina regras e leis e a direção a seguir. Tudo nos aponta na direção da integração cultural. É chegada a hora de comungar com outros povos unificando o espírito e o mundo. Para isso temos que conhecer nossa civilização, e saber que cada época concebe seus próprios símbolos e novas realidades. A mitologia nos conduz para a interioridade e conforme vamos entrando em contato com o nosso Ser, esse centro de excelência que existe em cada ser humano, e que se fortalece quando age em rede, nos inspiramos e atuamos movidos pelo amor e pela fé na vida. É verdade que a consciência racional, objetiva e unilateral se defende, duvida e divide. As preferências e opções se restringem ao que lhe afeta e a razão tende a rejeitar o que aparentemente não lhe concerne. Recuperar a capacidade de reconhecer e lidar com o mágico é desvendar e integrar na consciência o que a vida oculta. O universo simbólico concede o olhar de ultrapassagem do concreto para o abstrato e criativo. Essa é a maneira de comungar com a alma universal e criar beleza, progresso e desenvolvimento humano pleno. Quando a consciência transcende a objetividade, e a representação dualista da existência, abre as portas para a participação criativa e as idéias e metas adquirem um sentido mais amplo. A cultura brasileira é permeada pela espiritualidade que se expressa na diversidade de estilos e gêneros de arte, tendo a mística como mantenedora da sua unidade essencial. Carl Gustav Yung diz que a cultura surge do inconsciente e este é a matriz do consciente. Sri Yogananda, grande filósofo e mestre espiritual indiano unificou o pensamento cientifico e a busca da autorealização, e certa vez disse: “Fortes afirmações conscientes reagem no corpo e na mente, por intermédio da subconsciência. Afirmações ainda mais fortes alcançam não apenas a mente subconsciente, mas também, a mente supraconsciente - o armazém mágico dos poderes miraculosos”. Essa é a lei universal do êxito”. Mergulhar no inconsciente coletivo pela arte e pelas diversas mitologias nos ajuda a ter uma compreensão que ultrapassa o intelecto porque acionamos a inteligência do coração. As artes e as mitologias trazem, não somente a informação, mas a transformação, o que permite a consciência ultrapassar fronteiras. Isso propicia uma nova compreensão não só do mundo exterior, mas da própria existência.

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