quarta-feira, 21 de julho de 2010

A Serviço da Vida

“ Que tua alma dê ouvidos a todo grito de dor, tal como o lótus abre seu coração para sorver o sol matutino.” Pensamento budista

Atualmente um número muito grande de pessoas vendo as dificuldades pelas quais passa nossa sociedade é movido internamente a se perguntar, o que posso fazer, como posso ajudar? Mas, será que a pergunta não deveria ser como posso servir? É importante também saber a serviço de quem estamos, para não sermos vitimas do nosso ego-personalidade e agir por vaidade. Qual a diferença entre ajudar e servir? A ajuda pura e simples implica desigualdade, porque uma das partes se apresenta sempre em desvantagem. Quem ajuda sente sua auto-estima crescer, mas o ajudado pode sentir-se diminuído e inferiorizado. Por esta razão é preciso estar atento para não transmitir inadvertidamente uma impressão de superioridade quando ajudamos alguém. Por outro lado, servir implica relacionamento entre partes essencialmente iguais embora circunstancialmente diferentes. Servir ao semelhante é o encontro de seres humanos pelo coração. Quando agimos com espírito de serviço existe intercambio de afeto e algo indefinível, e além do que estamos oferecendo de concreto é trocado. Sempre que ajudamos alguém sentimos auto-satisfação, e nosso ego muitas vezes se sobrepõe à generosidade se apropriando do resultado da nossa ação. A ajuda sem espírito de serviço espera recompensa e reconhecimento, por isso muitas vezes quem ajudamos se sente em débito, e constrangido, se afasta de nós. A ajuda pura e simples inclui retorno e cobrança. Porém, quando servimos, a inteireza do nosso ser se revela na ação amorosa e altruísta, e ao mesmo tempo em que acolhemos o outro, somos acolhidos por ele, por isso não existe cobrança nem divida. Movidos pela compaixão compartilhamos emoções e eliminamos egoísmo e preconceitos. Estar a serviço inspira uma visão compassiva, compreensiva, fraterna e solidária das pessoas. O exercício da solidariedade nutre e fortalece a bondade humana e preenche de alegria o coração. No serviço amoroso quem serve é também servido. Servir ensina como nos desapegarmos das nossas ações e do resultado delas. Colaborar amorosamente com o bem estar do semelhante desperta a consciência de unidade na diversidade, e o Sagrado Mistério se faz presente e atuante, porque servir é trabalhar com e para a alma. O serviço renova a alegria de viver e reforça a fé em Deus e nos Seus propósitos insondáveis. Servir é basicamente uma maneira de ver, compreender, sentir e reverenciar a vida. Tudo o que é feito por e com amor é um serviço sagrado, por mais corriqueira que seja a ação. Não existe limite para o serviço, nem lugar e hora marcados para servir. A família, por exemplo, é um campo fértil para o serviço amoroso. Conviver com os parentes, funcionários e amigos nos ensina como aparar arestas do próprio temperamento, e perceber que as pequenas vilanias do cotidiano nos convocam para a pratica da paciência, da compreensão, do perdão e da tolerância. Todo gesto, toda palavra ou atitude amorosa é um serviço ao Bem. No trabalho, a convivência com um companheiro de trato difícil oferece oportunidades preciosas para prestar serviço. Esses colegas e familiares difíceis são mestres nos ensinando a compreender antes de julgar e enxergar o que existe por traz das palavras, emoções e atitudes. Olhar para quem nos ofende sem mágoa, e sem revidar, mas, procurando sentir e ver o que está além das palavras duras proferidas, e perceber nessa pessoa alguém que sofre é uma linda maneira de prestar serviço. Se essa pessoa não fosse infeliz não seria agressiva, prepotente, e rude, pois, quem é feliz não fere ninguém. Desse modo permitimos que a generosidade desabroche como o valor que nutre nossa humanidade. O serviço amoroso pode romper barreiras transferindo amor de nós para os outros e também nos disponibiliza para receber amor. O impulso de servir nasce naturalmente quando percebemos que estamos todos interligados na teia delicada da natureza, e servir o semelhante nos torna servidores de Deus Pai e Mãe.

Atitudes em relação ao semelhante

Para tomar consciência das nossas atitudes em relação ao outro é preciso além de nos auto-observarmos e questionarmos o que sentimos ter sempre presentes na mente as diferenças sutis entre ajudar e servir. A comunicação verdadeira com o semelhante se estabelece atravez dos fios sutis das emanações do coração, e a percepção básica do outro, sob o ponto de vista da ajuda é a avaliação. Eu avalio que o outro precisa de mim porque é mais frágil mais pobre e menos capaz do que eu. Já o ponto de vista do serviço compreende eu e o outro como pertencentes à mesma Vida e ambos como portadores de força, fragilidades, defeitos, qualidades, talentos, e capacidades. Ajudar mobiliza apenas parte do ser, servir mobiliza todo o Ser. Ajudar pressupõe saber o que é melhor para o outro, servir respeita as escolhas e limites do outro. Nossa atitude interior perante o semelhante quando ajudamos é de julgamento, e somos movidos a ajudar pela culpa ou piedade. Quando servimos existe abertura afetuosa para ouvir, compreender e ir além do que é dito para sentir aquilo que o outro não revela, e unidos pelo amor solidário criar em conjunto soluções. A piedade distancia os corações e a compaixão aproxima os corações. No decorrer da vida o serviço vai criando bases sólidas de sustentação de valores e motivações para viver e atuar no mundo. O serviço amoroso integra pelo coração os membros da família e de uma comunidade porque nos ensina como doar e amar verdadeiramente. Alem do mais, valida a dimensão do sonho, onde tudo é possível, fortalece a fé e a confiança, e nos capacita para construirmos juntos uma sociedade mais digna e próspera, menos injusta e mais feliz.

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