quinta-feira, 15 de julho de 2010

A Generosidade e a Prosperidade

“Existe no mundo o suficiente para suprir as necessidades de todos os homens, porém não para satisfazer sua cobiça”. Mahatma Gandhi

Infelizmente nós não somos educados para exercitar a generosidade e daí fomentar a prosperidade. Desde muito cedo somos preparados para reter, acumular, e defender a toda provão que é nosso. Somos ensinados ao mesmo tempo a desconfiar e nos defender dos semelhantes, e do mundo, assim como a disputar, e procurar ser sempre o vencedor. Com isso, a sociedade se apresenta como uma arena, a vida torna-se uma ameaça, e as pessoas, mesmo os familiares, adversários potenciais. Em razão dessa visão de mundo somos educados para ganhar a vida e não para viver, usufruir, compartilhar, e contribuir com a sociedade colocando-se a serviço da vida. A família e a escola definem valores de acordo com seus propósitos e princípios. Os propósitos e princípios por elas defendidos atualmente alimentam uma sociedade individualista, antiética e violenta. Trata-se de adestramento e não de educação. Com esse tipo de educação-adestramento somos conduzidos por valores inspirados pela lei do salve-se quem puder, e por isso colhemos ganância, corrupção, medo, violência, irreverência e imediatismo. Seguindo esse modelo educacional nos tornamos predadores planetários. A falta de ética campeia e vemos os resultados desastrosos disso em todos os ramos de atividade. Porém, a ética vista apenas como código de conduta não é o suficiente. É preciso que os valores éticos se enraízem em valores espirituais para que não se reduza a uma etiqueta. A ética sem a mística apresenta valores artificiais que são impostos e manipuláveis e isso compromete o caráter, o comportamento social e institucional. Diante desse quadro, a sensação de impotência arrefece a fé e o entusiasmo pela vida, e inibe o poder de iniciativa, e a capacidade de ousar, criar, e aceitar o inesperado e respeitar o diferente. É fácil constatar isso, diariamente os órgãos de comunicação mostram a falência das nossas instituições, e a barbárie e a inadequação das relações humanas. A falta de solidariedade e de esperança aparece na indiferença e apatia das pessoas diante dos desmandos dos governantes, e no descaso com relação ao sofrimento alheio. Nas menores coisas esse padrão destorcido se apresenta de forma assustadora. Por exemplo, quando pedimos algo para alguém, seja o que for, se observarmos a expressão do rosto da pessoa a nossa frente, notamos logo que uma nuvem de receio vem embaçar o seu olhar, e seu corpo se enrijece, se defendendo do “ataque”. È uma reação automática, acontece mesmo que esse alguém não tenha consciência disso. E se o que pedirmos for dinheiro, ou algo de que ela precise abrir mão, então tudo piora muito. A falta de fraternidade o orgulho e ou, o medo se apresentam sempre que pedimos um favor. Isso demonstra que temos dificuldades para amar, assim como para acolher, e para servir. Desse modo resistimos a compartilhar e principalmente renunciar a alguma coisa sem sentir um gostinho amargo de perda. Isso acontece porque somos ensinados desde cedo a guardar, reter, e poupar para que nunca falte; como se a vida fosse previsível, controlável e imutável. Conseqüentemente temos medo de viver, e não confiamos na dinâmica de renovações do fluxo natural da existência, nem na lei da reciprocidade. Quem nunca ouviu o famoso ditado “Quem guarda tem?” Nossa conexão com a carência nos distancia da abundância, e causa insegurança que por sua vez nutre o medo, e o imobilismo comodista com a ameaça da frustração, da perda e da dor. A solidariedade e a colaboração que são valores naturais no ser humano tornam-se qualidades raras. A teia da vida se fortalece pela colaboração e compartilhamento, quando extraímos dela mais do que oferecemos a empobrecemos. Nesse contexto egocêntrico e isolacionista, a alegria, a disponibilidade e a descontração são vistas quase como uma transgressão. É comum observar quando demonstramos alegria e soltura o quanto as pessoas ao nosso redor, em geral entediadas, reagem com estranheza. Algumas até comentam: “Você está sempre alegre não é?” O que diminui imediatamente a intensidade da nossa alegria. Automaticamente nos sentimos inadequados como se estivéssemos fazendo algo errado ou inoportuno. A alegria é um estado que a alma anuncia e tem grande poder transmutador, por isso incomoda. É um valor legítimo, e além do mais ativa a divina alquimia que permite fluir o poder da alma naturalmente, sem inibições. No entanto, as pressões externas nos afastam do que realmente é importante para nós, e do que realmente queremos e nos faz feliz. Antivalores como a inveja, a mentira, a cobiça, a disputa, o egoísmo e outros se enraízam no distanciamento imposto entre o espírito e o mundo. A generosidade se nutre da espiritualidade, e esta, quando despertada, nos conecta com a alegria, a autoconfiança e a fé no Inominável. Descobrimos o Princípio da abundancia e das infinitas possibilidades. Essa Força que emana amor e se alimenta de amor, é a inesgotável fonte transformações. Otimismo, fé, coragem, autoconfiança, entusiasmo, gratidão e generosidade, são valores que caracterizam alguém que ama de verdade, e se permite ser amado. Sim, porque quem não sabe amar não se permite ser amado por ninguém. Quem não sabe receber também não sabe doar. O amor é a pedra angular do nosso templo interior, e o sustentáculo da felicidade, e do verdadeiro progresso material e espiritual. A espiritualidade é a bússola no meio do oceano de incertezas, e no barco da vida devemos ter os olhos sempre voltados para o céu, e por ele nos guiar, sem esquecer de remar na direção da praia. Unir mundo material e mundo espiritual é a nossa tarefa mais importante enquanto seres humanos. A primeira lei do universo é a lei da potencialidade pura e da abundância. Portanto, a vida se alimenta da vida e a lei da atração atua constantemente. Depende de nós a qualidade do que atraímos, o universo não se nega a nos prover quando nos colocamos a serviço da vida.

Dinheiro e Espiritualidade
Muitos dizem que dinheiro não traz felicidade, é verdade, mas sem duvida supre necessidades básicas fundamentais, gera possibilidades além de garantir a sobrevivência. Temos que suprir as necessidades materiais e espirituais da nossa condição humana e nos capacitarmos para tal. Todos querem a felicidade, mas nos esquecemos que ela é uma virtude, e que transcende as condições financeiras e mudanças aparentemente aleatórias da vida. Quando aprendemos a viver em harmonia com o Eu profundo, descobrimos que os ciclos da vida nos expõem às situações pelas quais precisamos passar para desenvolver plenamente nosso potencial humano. E assim nos libertamos do medo, duvida, culpa e autopiedade, e do jogo oscilante entre prêmios e punições, e assumimos a responsabilidade sobre nossa própria conduta. Percebemos que a responsabilidade é uma dádiva e não um fardo, e descobrimos que tudo o que nos acontece traz consigo as soluções. A partir daí aprendemos com nossas falhas e renascemos de nós mesmos dentro da dinâmica das transformações, e compreendemos que a existência recomeça a cada momento e nós com ela. Muitos sofrem por ter dinheiro de menos ou demais, a tal ponto que perdem a noção de preço e valor, lucro e logro. Na verdade o dinheiro tem valor convencionado e é importante como resultado material da energia aplicada no trabalho dos homens e das mulheres. Para muitas pessoas existe o conflito entre o dinheiro e a espiritualidade. Esse conflito é fortalecido pelo mito mal interpretado de que riqueza é um empecilho para a elevação espiritual. A riqueza não é o entrave para a felicidade e ascensão espiritual, o que dificulta ser feliz e evoluir espiritualmente é o apego, a avareza, a arrogância e a ganância. Alguns pensam que a elevação espiritual está atrelada a carência e privações, mas de nada adianta negar a importância do dinheiro e pensar o tempo todo em ganhar dinheiro invejando quem é rico. É preciso dar a essa energia o poder que ela tem, sem minimizar nem exacerbar sua importância. A generosidade é o valor que nos liberta desse impasse porque fortalece nossa humanidade e descontamina nossa visão sobre perdas e ganhos, e amplia a compreensão das coisas do mundo e do espírito. É o valor que possibilita a criação de riquezas pessoais com propósitos grandiosos, sem prepotência, culpa nem cobranças. A generosidade resulta da fé na vida e no divino, por isso desencadeia a energia mobilizadora que resulta na realização vitoriosa de qualquer empreendimento. Ser próspero não é o bastante é preciso gerar prosperidade. Na Bíblia, a parábola do jovem rico que não consegue abdicar dos seus bens e dos seus hábitos, ensina que felicidade e progresso implicam na liberdade para abrir mão, renunciar ao comodismo e ousar acreditar na vida, no novo, desconhecido e surpreendente. O jovem rico diz a Jesus que quer ser feliz, e o Mestre pede que ele abandone tudo o que tem e conhece, e se disponha a segui-Lo. Amedrontado, o jovem recusa o chamado de Jesus. Essa parábola explicita que o vilão não é a riqueza, mas o medo de mudar e ousar que nutre o apego, a dependência e o comodismo. Do apego surgem a inércia e a desconfiança que juntos fundamentam a ação cumulativa que busca no acúmulo um escudo protetor. Esses são fatores que tornam o coração estéril e entorpecem a criatividade renovadora, e nos impedem de saber que suprir o necessário é o suficiente. O apego faz a carência pairar como ameaça constante, e a ganância nos torna insaciáveis, gerando falsas necessidades à medida que nos alija do contentamento. Por ironia, o apego define o destino do apegado e este, buscando segurança e tranqüilidade, só encontra inquietação e sobressaltos. Nascemos naturalmente generosos e altruístas, mas pouco a pouco nos tornamos avaros e egoístas a medida que aprendemos com o comportamento de familiares, e interagimos com o meio social e cultural a nos relacionarmos com a vida. A família e a escola nos incutem os valores que sustentam a organização social, política e econômica, assim como o padrão de relacionamentos. É chegada a hora da educação interromper o ciclo vicioso de enganos, e permitir que a excelência humana aflore. A educação é o fio condutor dessas transformações e uma educação para o novo milênio precisa ter como eixo os valores humanos para contemplar as dimensões materiais e espirituais do ser humano. Devemos compatibilizar valores materiais e espirituais para nos livrarmos da couraça do individualismo medroso e da falta de amor. Somente assim teremos autonomia e competência para fazer a diferença e estaremos livres de ilusões que impedem que vivamos plenamente a vida. A riqueza e a prosperidade material se fundamentam na espiritualidade e a generosidade é o esteio da abundância, da parceria e da reverência pela vida. Ser generoso não é ser perdulário é saber compartilhar com alegria e desprendimento, e ter confiança no semelhante, na vida e em Deus. Quanto mais generosos formos, mais livres, criativos, amorosos, felizes e prósperos seremos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário